domingo, 9 de agosto de 2015

Prepare-se Para Morrer

Todas as pessoas de certa forma imaginam ser um personagem principal de um filme chamado “sua vida”. Assim, elas se sentem no direito de reclamar o que todo protagonista merece, um final feliz. Apesar de que é verdade que todas as pessoas deveriam ser felizes, não é sempre o caso. Então quando uma mídia resolve tratar esse outro aspecto do fim de um personagem ela se torna interessante.

                Em setembro de 2011, a desenvolvedora de games From Software lançou Dark Souls, um jogo ambientado num cenário medieval fantástico que é frequentemente lembrado por ter mecânicas altamente punitivas ao jogador. O sucessor de Demon Souls foi um sucesso tanto com a crítica quanto com os fãs, vendendo mais de 2,3 milhões de cópias ao redor do mundo. O sucesso escalou tanto que em 2014 foi lançado o seu sucessor Dark Souls 2 e na E3 de 2015 foi anunciado Dark Souls 3.





Apesar de Dark Souls ser comentado por sua dificuldade brutal, o sentimento que o jogador leva da experiência é a atmosfera muito pesada e escura. O marketing foi feito em cima da jogabilidade, com suas frases “You will die” ou o nome da versão especial do jogo “Prepare to Die Edition”, ainda sim não é a única coisa oferecida. Dentro do próprio jogo, tudo gira em torno de passar para o jogador um sentimento de desespero.

No mundo fictício de Lordran há uma maldição que torna as pessoas imortais, assim qualquer batalha travada não é uma questão de vida ou morte, e sim uma questão de força de vontade. Esse aspecto também é refletido no seu gameplay que é muito desafiador, e fracasso traz consequências fortes.  O jogo revolve em torno de lutar contra o inevitável, e como isso é pessoalmente importante, pois é possível criar significado através da falta de significado.

                O objetivo do jogo é que o personagem principal cumpra uma profecia, que promete que ao fim de sua jornada, ele saberá qual o destino dos mortos-vivos. A história do jogo é apresentada de uma forma incomum, sendo necessário ler descrições de magias e itens para que se entenda melhor como o mundo funciona e as motivações dos diversos personagens que aparecem durante sua jornada.





                O diretor Hidetaka Myazaki trabalhou muito bem a dualidade no jogo, evitando clichês. Luz, trevas, morte, vida, esses aspectos são tratados de forma muito original, e o mesmo se aplica para os heróis e vilões, ninguém é incontestavelmente mau, assim como ninguém é verdadeiramente altruísta. Cada personagem do jogo luta pelo que acredita, ou para lidar com seus demônios pessoais, e isso é importante, pois os mortos-vivos que abandonam suas jornadas geralmente ficam loucos com sua própria imortalidade.


                Apesar de o jogo ter um cenário medieval, com cavaleiros de armadura lutando contra dragões, ele está longe de ser um conto de fadas. Não interessa se a história ou os jogadores retratam os personagens como heróis, vilões ou aventureiros, cada ação tem sua consequência e não importa que eles não façam nada de errado, tragédia ainda os encontrará. Não existem finais felizes em Lordran.





Um comentário:

  1. Gostei muito do texto. Bem escrito! Nunca pensei que games pudessem trazer tantas reflexões! Lúcia

    ResponderExcluir