domingo, 26 de janeiro de 2014

A Arte do Sexo

   O Brasil é  um país de contradições. Essa é uma frase feita das mais comuns em discursos políticos e debates sobre a questão social em nosso país. Eu acabei pensando nessa frase enquanto travava, em minha cabeça, uma discussão sobre a moralidade do brasileiro. Para alguns chamada de conservadorismo, para outros, de preservação da moral e dos bons costumes, é o tipo de discussão chata que fica evidenciada pelos belos traseiros femininos sempre expostos em tv aberta, durante o dia, nos famigerados programas de domingo, em contraposição à não menos chata discussão sobre, por exemplo, o beijo entre homossexuais, que pelo que ouvi recentemente vai acontecer em novela das 21 horas, após anos de hesitação por parte da rede globo.

   O cinema, nacional ou não, tem mais liberdade para trabalhar com o erotismo e com o sexo do que a televisão. Isso acontece por razões óbvias: a tv carrega aquele estigma de ser algo para a família assistir unida na sala, foi feita para entreter todas as idades, sem ferir a moral de ninguém. É no mínimo contraditório esse diálogo que a tv brasileira faz com o sexo, com o erotismo. Os programas pra  família brasileira falam e mostram o sexo o tempo todo, mas de maneira falsamente velada.O que temos é a chamada apelação, a exibição do erotismo usada para ganhar ibope. Qualquer tentativa de sair disso gera mais polêmica, afinal é errado, principalmente para nossas crianças, a exibição desse sexo explícito na tv (só nãovale falar nada em dia de carnaval).

  Esse post não é, no entanto, uma discussão sociológica. Longe disso! Citei o que estava discutindo comigo mesmo porque esse debate interno me veio na saída do cinema, após assistir ao filme Ninf()maníaca, do diretor Lars Von Trier. Um filme que, antes de estrear, causou um imenso alarde devido às cenas explicitas de sexo, que atiçaram, e não há como dizer que não o fariam, a imaginação do público. Afinal, o que chegaria ao cinema, um filme sobre depravação com cenas bem trabalhadas, chocantes e esmagadoramente sexys?? O que, afinal, veio a ser o filme Ninfomaníaca??
    O sexo mexe com a imaginação do público. É um grande trunfo quando utilizado, pois sexo atrai a atenção de todo mundo. Não há como negar a brilhante produção, por exemplo, da série da HBO Game of Thrones, que impressiona em cada cena. Porém é um fato que as cenas de sexo naquela série são um dos principais chamativos para o público. Há diversas maneiras de retratar o sexo, e a maneira com que se faz isso desperta o interesse de todos (além dos corpos nus, claro). Ninfomaníaca ficou estigmatizado, antes do seu lançamento, como m filme que trabalharia o sexo da forma mais explícita e imoral possível, e ver um filme com aspecto tão alternativo sendo exibido em diversas salas de shoppings da cidade é evidência da curiosidade que o filme despertou.

    Lars Von Trier, diretor ousado, fez no entanto algo bem diferente do e se pensava. Há diversas cenas de sexo no filme, sexo explícito, com uma câmera nada tímida mostrando detalhes que, bem, você me entendeu. Só que o filme vai além disso. A história de Joe, ou pelo menos de sua versão mais jovem, que é o que a primeira parte do filme retrata, faz um paralelo da relação da protagonista com o sexo, sua descoberta e como essa relação, digamos, ousada, afeta sua vida e a vida de pessoas ao seu redor.
    O filme tem um certo aspecto de divã, com Joe, mais velha, contando a um homem que a encontra machucada num beco sua vida. Durante o diálogo, ela fala sobre suas angústias em relação a atitudes que tomou, enquanto retrata a ele sua vida como uma viciada em sexo. A relação nada convencional com seus muitos amantes, que ela na maioria das vezes prefere nem chamar pelo nome. À medida em que o filme avança, ela vai se encontrando com outras pessoas, amantes ou não, que passam por sua vida.

  Como aspectos positivos, tem-se como principal fator a genialidade de ser um filme que fala ( e mostra) o sexo, mas de isso não tomar conta da história. O sexo é parte da vida de Joe, mas o que o filme retrata é a vida dela, suas angústias, amores e descobertas. A trilha sonora também tem seus momentos bons e o humor, às vezes picante, presente no filme dá um toque delicioso. Christian Slater defende muito bem seu personagem, o pai da protagonista e Uma Thurman, no pouco tempo em que aparece, está brilhante. Sua sequência é a mais estranha do filme, mas ao mesmo tempo a mais interessante.

      O diálogo da protagonista com seu novo amigo é que, na minha opinião é o ponto mais estranho do filme. Algumas vezes, os personagens estão inspirados e a conversa atinge um nível de genialidade altíssimo. Outras vezes, porém, me soa um pouco forçado a relação que eles estão construindo. É claro que essa relação poderá ser mais bem esclarecida na segunda parte do filme, que mostra a vida da Joe mais madura.

     Ninf()maníaca é um filme polêmico, sem sombra de dúvidas, e que tem como chamativo a vida sexual da protagonista, que proporciona analogias divertidas e interessantes e cenas fortes. Porém, tem um ar de obra de arte, mesmo sendo sobre sexo, não o deixa tomar conta do enredo. Quem assiste ao filme podeaté querer ver as cenas quentes, porém está lá para ver o que afinal de contas acontece na vida de uma mulher doente, viciada em algo.  Ainda tem mais, a parte 2 vem aí e Lars Von Trier parece ainda ter algumas cartas na manga para concluir sua nova obra brilhantemente, sem falsa moralidade como a tv de um certo país que eu conheço. Vêm parte 02!!