domingo, 12 de abril de 2015

Um Pouco de Música: Johnny Hooker

Então tá, vamos falar de "sofrência". Um termo que acabou ficando bem popular recentemente por conta de uma música em específico que não precisamos nomear. Sofrência é algo que existe a muito tempo na música. Quem nunca ouviu falar em Waldick Soriano, Reginaldo Rossi e esses cantores que tocam naquelas juke boxes de barzinhos sujos das grandes cidades. Estes senhores são aqueles que com letras simples e canções carregadas de elementos hoje tidos como "bregas" fizeram muito sucesso cantando suas mágoas e dores. A chamada "sofrência"que agora se fala, é uma espécie de resgate desse tipo de música, mas obviamente que de forma genérica e forçada.

Waldick e a essência da sofrência

Quando me indicaram o disco de Johnny Hooker me disseram que era "sofrência pura". Eu logo descartei a possibilidade de ouvir, pois essa sofrência nova que alguns "artistas" vem fazendo é algo que não me atrai. Eis que alguns meses depois, me deparo com uma canção que me hipnotiza os ouvidos. Era de uma pureza, de uma força, de um talento e de uma interpretação singulares. Uma canção pulsante, nordestina em sua alma. Aquela música parecia que tinha vida própria. Obviamente que fui procurar o responsável por aquilo e acabei reencontrando aquele cantor que havia descartado anteriormente, o tal Johnny Hooker. Detesto generalizações.


"Alma Sebosa", canção acima, é sofrência pura. Não só na letra, mas como um todo. A interpretação, a composição em si, dão aquela sensação de que o intérprete está realmente sentindo tudo aquilo o que canta. E está mesmo. Johnny Hooker faz isso com maestria. É possível ver sua performance somente ao escutá-lo. O desespero, a dor. O cantor coloca sua alma na canção, o que a torna pura, visceral, viciante, desesperada.

E Hooker tem nessa entrega sua principal característica. O seu disco "Eu Vou Fazer uma Macumba pra te Amarrar, Maldito!", como  o próprio nome já mostra, é uma coleção de sentimentos gritados, chorados e rasgados em canções elaboradas, que misturam elementos do tropicalismo com estilos clássicos como o frevo e o bolero.


 Johnny Hooker é uma grata surpresa pra quem gosta de música brasileira. Seu disco é cheio de elementos surpreendentes e sua interpretação é explosiva. Juntando tudo isso a suas letras, podemos dizer que ele sim é um artista de sofrência. Não como um termo generalizado, o que acabou acontecendo com a palavra, mas de verdade, pois seu sentimento que perpassa a letra da canção. Escrever uma letra triste pode ser bem fácil, mas no caso de Johnny Hooker, sua música parece refletir seu espírito, o espírito de um pernambucano talentoso, orgulhoso, apegado a suas origens e inovador ao mesmo tempo, mas acima de tudo, o espírito da verdadeira sofrência, aquela deliciosa que se transforma em música.