segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Um Pouco de Música: Felipe Cordeiro

                                                                   
 
     Este blog costumava ter regras, ter uma rotina. Pelo menos essa era a minha intenção quando os outros donos abandonaram o barco. Eu queria fazer um blog de recomendações de coisas que eu gostava, e tinha a intenção de intercalar as postagens com música, cinema, tv, ou alguma ordem aparente. Como percebe-se, eu falhei miseravelmente. Não sou uma pessoa organizada, e tenho que lidar com isso. Enfim, dentre todas categorias na minha tentativa de ordenar essa bagunça, o que eu mais gostava era o "Um Pouco de Música". Nessas postagens, eu apresentava algum cantor ou banda que conheci de forma aleatória, e recomendava aos caros leitores que também ouvissem. É algo que eu gosto muito de fazer pessoalmente, e num blog totalmente meu isso não poderia faltar. No entanto, faz muito tempo que não há uma postagem com o título "Um Pouco de Música" por aqui. Não sei porque, afinal eu continuo conhecendo artistas ótimos enquanto "navego na web". Bem, essa espera acabou, o "Um Pouco de Música" voltou, e voltou num ritmo daqueles... 

    Ainda falando desse blog, mesmo não constando atualmente na lista dos posts mais acessados, um dos campeões de visualizações é o que fala sobre a cantora Gaby Amarantos , que está a cada dia mais famosa no Brasil inteiro. Naquela ocasião, eu disse que Gaby fazia um som que poderia soar pros ouvidos mais críticos como algo muito ruim, mas que a atitude da cantora e sua constante valorização da cultura paraense faziam dela um fenômeno ao qual você deveria dar atenção. Bem, esse post vai falar de novo sobre música vinda do estado do Pará. Hoje, no entanto, as ressalvas estão excluídas, a música do cara que quero apresentar é indiscutivelmente boa, e olha que eu não era nem nascido na época do estouro da lambada. 

   Felipe Cordeiro é um artista daqueles que gostam de uma boa mistura. O som do cara têm influências de música popular das mais diversas fontes. O carimbó paraense se encontra com elementos da MPB tropicalista numa mistura divertida e apaixonante. Seu álbum Krish Pop Cult, lançado em 2012, ganhou alguma repercussão (merecida) e ainda nos brindou com um dos melhores clipes nacionais dos últimos tempos, o ótimo "Legal e Ilegal"

                                                                               
   Não, não tem como ficar parado. Felipe Cordeiro deu à lambada um ar requintado, sem tirar dela seu caráter popular. Maior prova disso é o seu novo álbum, "Se Apaixone Pela Loucura do Seu Amor". Lançado a poucos meses, o disco é de uma beleza e de uma alegria contagiantes. As guitarras são de deixar admirado qualquer profissional, e tem aquela energia popular que acaba conquistando qualquer um. Desse novo álbum, destacam-se as faixas "Problema Seu" e "Ela é Tarja Preta", as melhores do álbum, que vale muito a pena em sua totalidade.
                                                                            
   Felipe Cordeiro é mais um representante de uma safra da música paraense, nova pra meus ouvidos, mas que tem me encantado profundamente. A mistura de ritmos, a animação, a excentricidade , tudo faz da música do Pará algo muito acima da péssima banda Calypso, mostrando que o nordeste, assim como fez no passado, ainda nos traz música de qualidade indiscutível.
                                                                           
 


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Carrie estranha Carrie


  Estreou na última sexta feira, dia 06, o filme Carrie, a Estranha. Dirigido por Kimberly Peirce, trata-se de um novo remake dos já clássicos filme original, de 1976, e também do livro que deu origem a todos os filmes, escrito por Stephen King. Há também uma versão do filme feita em 2002. Entretanto, gostaria de focar minha atenção nas versões de 1976 e 2013, pois ambos trazem peculiaridades não só sobre diferenças de roteiro, mas principalmente no modo de se fazer cinema em épocas nem tão distantes.

  O enredo gira em torno de Carrie White, garota colegial que vive com sua mãe Margaret, uma religiosa fanática que vê pecado em tudo e todos e tenta resguardar a si mesma e sua filha dos males que existem na Terra. A criação dura da menina, obviamente, se reflete em seu comportamento, sendo Carrie uma garota retraída e tímida, o que a faz ser motivo de chacota na escola. A garota acaba percebendo que possui poderes telecinéticos, fazendo coisas se moverem sozinhas ou explodirem. Ao ser chamada para o baile da escola e novamente humilhada pelos colegas, que jogam sangue de porco em cima dela, ela usa seus poderes numa vingança furiosa.


   O filme de 1976 é uma junção de acertos. Dirigido por Brian de Palma, a performance da protagonista Sissy Spacek deu a ela uma indicação ao Oscar de melhor atriz. E não é atoa! A primeira Carrie consegue passar em seu olhar a timidez, o medo e o ódio, e a atriz tem uma desenvoltura hipnotizante. Ainda temos a atuação de Piper Laurie, que vive Margaret, a mãe de Carrie, uma mulher que assusta qualquer um. As sequências das duas juntas, em especial a última do filme, são espetaculares.

   A direção de de Palma é primorosa. A cena inicial do filme, no vestiário feminino, em câmera lenta, e que termina na selvageria das alunas frente ao desespero de Carrie por estar "sangrando até a morte", e a clássica cena do baile, desde o seu começo, com Carrie feliz com seu par, até o final trágico, mostram o capricho da direção. A fotografia sombria que toma conta das cenas, a trilha sonora perfeitamente encaixada, enfim, um filme excelente pra quem repara em detalhes mais técnicos, e ainda uma grande pedida pra quem quer ver uma boa história ser contada.
  O enredo da nova versão segue basicamente a mesma linha da original. É claro que, em 2013, mudanças tinham que ser feitas. Os smartphones agora são parte da vida de todos, e a tal humilhação no banheiro vira vídeo, que é exibido na cena do baile, essa sim bem parecida com a original. Margaret aqui é interpretada por uma ótima Julianne Moore, que tem uma boa performance como a mãe fanática de Carrie.

   A nova versão, porém, não tem, de nenhuma forma, o mesmo impacto da original. É claro que no quesito enredo isso acontece com quem já viu algum dos anteriores ou leu o livro. O filme, porém, é um remake em que algo acaba faltando. As cenas não são mais tão instigantes e, apesar de bem dirigidas, muitas vezes não acabam casando umas com as outras.

  Chloe Grace Moretz, que vive a protagonista, é boa atriz, vide seus outros trabalhos, mas sua Carrie, ainda que tenha ido bem na cena principal do filme, a do baile, não passa tanta timidez ou ingenuidade como aquela vivida por Spacek. Sem esse detalhe de composição, a reviravolta na vida da personagem e sua vingança perdem a força.

  O filme atual também perdeu o clima sombrio do original, e esse é o principal defeito. Ao tentar mostrar em demasia os poderes da protagonista, parece que o foco principal são os efeitos especiais. As cenas de Carrie na rua depois do baile e a sequência final da personagem, junto com sua mãe, acabaram perdendo toda a arte dramática para dar lugar aos belos efeitos computadorizados.


   Perde-se, com essa nova filmagem de Carrie, a chance de aliar os que eu considero os principais alicerces do cinema de 1976 e atual. Os efeitos especiais no primeiro filme eram difíceis de se fazer, o que implica que fazê-los com qualidade exigia um roteiro impecável. Os roteiros dessa época eram mais bem elaborados, e a história de Carrie, por exemplo, por mais fantástica que fosse, não corria o risco de soar incoerente ou sem sentido. Os efeitos de câmera aqui, como a câmera lenta, ou aquela que fica rodando em volta dos personagens ( que deve ter um nome específico), eram o que dava o clima que o filme pedia. Fotografia, edição, tudo aliado a direção competente e boas atuações, faziam a magia do cinema acontecer.
   O foco nos efeitos especiais computadorizados mata por completo esse tipo de característica. Essa tendência de modernidade é uma grande crítica ao cinema hollywoodiano de hoje em dia, e ela tem fundamento. É claro que em filmes como Avatar ou As Aventuras de Pi, o espetáculo visual é necessário e é um atrativo do filme. Mas o foco em Carrie deveria ser na personagem, em sua personalidade, pois é isso que desencadeia os acontecimentos do filme, e não a utilização dos poderes que ela adquire.

   Carrie, a Estranha, ganhou, novamente, um remake que não substitui a genialidade da obra original. Remakes podem até não serem feitos para isso, mas o atual descaracterizou o principal da obra, a aliança perfeita entre enredo e efeitos especiais bem colocados. As produções cinematográficas que em 2013 servem apenas para entreter e dar dinheiro às produtoras, bem que podiam rever seus conceitos sobre seu objetivo, porque o cinema é bem mais do que entretenimento, e o filme de Brian de Palma, lá em 1976, com efeitos especiais reduzidos e precários, ainda assim dá uma aula do que é cinema.





  

terça-feira, 29 de outubro de 2013

20 Anos de "Jack" e a Perspectiva Gótica do Futuro Burton

  Há incríveis e velozes vinte anos estreava nos cinemas norte americanos o primeiro longa metragem em stop-motion da história. "O Estranho Mundo de Jack", dirigido por Henry Selick, teve origem num poema escrito anos antes por Tim Burton e revolucionou o jeito de se fazer cinema de animação e até de contar histórias. Os personagens sombrios do filme, moradores da cidade do Halloween, e principalmente seu líder, Jack Skellington, se tornaram muito populares entre os jovens e crianças da época, mesmo com seu aspecto assustador. O filme confirmou que o estilo Burton de fazer cinema estava, em 1993, no topo em quesito inovação, direção, trilha sonora e enredo.

                                                            
                                                    

    Já nessa época, Tim Burton gerava discussões em torno de seu estilo. Se, por um lado, suas produções eram sempre elogiadas por maquiagem, direção de arte e a sempre marcante trilha sonora de seu eterno parceiro de trabalho Danny Elfman, haviam sempre os depreciadores e críticos dessas obras macabras. A própria Disney, na época do lançamento de "Jack", preferiu colocar como selo do filme a produtora Touchstone Pictures por achar os personagens e a história do filme sombrios demais para a" imaculada e sempre inocente marca Disney".

 O termo gótico já serviu para inúmeras e diferentes formas de arte, dentre estas a arquitetura da baixa idade média (séculos XIV-XV), ou ainda aquele conhecido ramo da literatura romântica, cujas histórias se passavam em cemitérios e casas mal assombradas. No final dos anos 70 e durante boa parte dos anos 80, a juventude da época abraçou o chamado "Movimento Pós- Punk", que trouxe à moda as roupas pretas, cabelos despenteados e poesias (aqui também entra a música) com aspecto sombrio e trágico.

   Tim Burton é um discípulo do Pós-Punk, e se o gótico já havia sido incorporado pela moda e música, por que não reatualizá-lo e trazê-lo ao cinema? No fim dos anos 80, quando começa sua carreira de cineasta, Tim Burton tem em suas mãos uma nova possibilidade de falar e mostrar a cultura gótica.


   Com enredos interessantes, cenários riquíssimos e arte impecável, Tim Burton traz para o público um estilo próprio de fazer cinema. Seus filmes, sejam animações, curtas metragens ou longas, tem um peculiar senso de humor e um lado sombrio atraente e encantador. Entre os sucessos de público e crítica do autor, "Os Fantasmas se Divertem (1988)" e "Edward, Mãos de Tesoura (1993)" são até hoje clássicos renomados de fim de século.

    Mas os elogios não eram unânimes, e as críticas a Burton também ganharam espaço. Á princípio, poderiam ser culpa das produtoras, que achavam que o estilo gótico de Burton funcionaria em todos os aspectos que o diretor trabalhasse. Como exemplo disso temos a franquia Batman dirigida e posteriormente produzida por ele. Ainda que com uma arte impecável e trilha sonora instigante, a saga do homem morcego nas mãos de Burton saiu para os fãs desastrosa ( ressalvas aqui ao segundo filme, Batman - O Retorno, que tem um Danny Devito sensaconal e uma Michelle Pfeiffer maravilhosa perfeita sensual chupa Halle Berry), e causou um estrago em seus quatro filmes que só foi devidamente consertado na franquia posterior, de Christopher Nolan.

                                          


   O que importa, enfim, é que Tim Burton inseriu e consolidou seu estilo gótico e macabro, inclusive brincando com outros gêneros (como a ficção científica em "Marte Ataca") durante os anos que se seguiram. Vieram sucessos como "A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça" (1999), alguns também em animação, como "James e o Pêssego Gigante" (que, particularmente, me dá arrepios) e alguns fracassos retumbantes, como "Planeta dos Macacos" (2001), em que só se salva a trilha sonora.

  Enfim, anos 2000:



 Pode ser por uma nova mentalidade da juventude, que quer inovações, ou talvez por um desinteresse por filmes sem tanta ação e com histórias mais elaboradas; Talvez o próprio estilo gótico tenha caído novamente em desuso ou ainda um trágico desgaste do estilo cinematográfico, o que é bem relativo, mas é fato que Tim Burton, atualmente, está fora de moda.

   Ainda é possível encontrar por aí acessórios com a cara esquelética de Jack Skellington estampada, ou referências ao Beetlejuice em séries de tv ou nas comemorações de dias das bruxas, mas parece que as obras do diretor perderam o encanto em torno do grande público, transformando-o em um diretor de aspecto cult.

   Não que Tim Burton não fosse cult anteriormente. Pode-se dizer que ele sempre foi cult, mas o que se vê agora é um cara cujos filmes encantam apenas uma parcela do público que já conhece e gosta das características do diretor, Não havendo mais interesse por parte de quem vai ao cinema buscando entretenimento.

   Tim Burton hoje em dia encontra sucesso em filmes cuja bilheteria não impressiona, como "Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas" (2003), um de meus preferidos, " Sweeney Todd, O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet " (2007),  ou a animação "A Noiva Cadáver" (2005), que até fez um relativo sucesso. Quando se trata de tentativas de filmes que atraiam o grande público, porém, o que se vê são os sempre presentes elogios à arte, mas acompanhados dessa vez de fortes críticas a enredo.

  Esses filmes criticados têm uma coisa em comum: São todos adaptações."A Fantástica Fábrica de Chocolates" (2005), "Alice no País das Maravilhas" (2011) e "Sombras da Noite" (2012), esse último de uma antiga série de tv americana. Goste desses filmes ou não (eu particularmente adoro Sombras da Noite), é fato que eles são uma grande prova de que a arte de Tim Burton não é mais uma fábrica de dinheiro, o que por um lado é até bom, pois agora a tendência, na teoria, é que ele tenha mais liberdade para trabalhar, visto que não se colocam expectativas o que ele fará a seguir, distanciando-o das modinhas e cortes que ele poderia ser obrigado a fazer.

                                       

    Terminar esse post sem falar sobre a eterna parceria com Johnny Depp e Helena Bonham Carter seria um pecado. Aqueles dois já são parte integrante do jeito Tim Burton de fazer cinema. Um jeito que parece não ter mais a magia dos tempos de lançamento de "O Estranho Mundo de Jack". Ainda assim, Tim Burton tem muitos seguidores e fãs por aí que não ligam para números ou para o que os críticos dizem, visto que os mesmos críticos que hoje falam mal são aqueles que um dia elogiaram. Se Tim Burton está fora de moda, melhor pra nós, que adoramos amar o que é estranho, o que é lúdico, o que é gótico. Feliz Tim Burton, Feliz Halloween!!



sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Eu, você, Humberto Gessinger: Todo Mundo é uma Ilha



     Há dez anos que Humberto Gessinger não lançava um álbum só de músicas inéditas. O último foi ainda como líder dos Engenheiros do Hawaii e se chamava "Dançando no Campo Minado". Lançado em 2003, esse álbum foi sucedido pelo acústico MTV da banda, que tinha apenas duas canções inéditas. Após ele veio o Acústico Novos Horizontes, e nos últimos anos Humberto deu uma pausa nos Engenheiros e se dedicou aos projeto Pouca Vogal, em parceria com Duca Leindecker, da banda Cidadão Quem.

                                                                 

    Já estava na hora de um disco novo. E Humberto resolveu nos presentear com Insular, seu mais novo álbum solo. De acordo com o próprio Humberto "... não sabia se seria um disco do Pouca Vogal ou dos Engenheiros. Resolvi fazer solo porque havia muita gente com quem eu queria tocar, e de certa forma o formato que eu pensava para o disco não se adaptava a nenhum dos dois projetos..."

   A palavra Insular faz referência a  um País independente cujo território é  uma ilha ou um conjunto de ilhas, sem fronteiras terrestres definidas. Imagino ser uma referência à própria carreira musical de Gessinger, afinal os Engenheiros do Hawaii sempre foram uma ilha no Rock brasileiro, sem construir pontes com outros artistas da época, sendo o alvo favorito dos críticos, que acusavam a banda de reciclar idéias e até de incitação ao fascismo.

   Prestes a completar 50 anos de vida, Humberto resolveu erguer essas pontes e chamou vários companheiros para participar de Insular. O disco é uma variada salada de composições que passam pelo rock que faz lembrar os Engenheiros, possuindo ainda aquelas músicas "agauchadas", sul rio grandenses por natureza e características do orgulhoso gaúcho gremista que é Humberto Gessinger.

    Nas letras, percebe-se a maturidade de um compositor, letrista, escritor, que já passou por muita coisa mas ainda está na ativa. Há nas letras muita expectativa pelo que está por vir, e de certa forma Humberto se afasta do saudosismo e da nostalgia. Adaptado a novos tempos, ele não rejeita mais a modernidade, e algumas letras falam de fakes da internet e até de wi-fi.

    Outro ponto positivo é que Humberto está de volta ao baixo, instrumento que era de sua responsabilidade nos tempos áureos dos Engenheiros. E é justamente ao som do baixo que ele começa o álbum, na introdução "Terei Vivido". Ela é seguida pela ótima "Sua Graça" (aquela que fala dos fakes). A sequência do álbum é com "Bora" e "Aponte para o dia", músicas que falam justamente sobre seguir em frente e viver novos momentos, que é o que Humberto agora faz.
                                       

   "Tchau Radar, a Canção" é a ótima quinta faixa, composta em parceria com Esteban Tavares, fã declarado de Humberto (oportunidade e tanto, que ele soube aproveitar). A sexta faixa é "Tudo Está Parado", que tem uma versão do Jota Quest, bem diferente da do Humberto, é claro, e é a faixa que eu ouvi tocando no rádio a alguns dias, tomara que esteja fazendo sucesso. A música é seguida pela ótima "Recarga", daquelas canções em que a letra se sobressai, ainda que a música seja também muito boa. 

   Se os fãs dos Engenheiros sonham com uma volta da banda, o maior sinal de Humberto, na minha opinião, é a faixa "Milonga do Xeque - Mate", que me lembra muito a formação clássica da banda, o saudoso GLM. Milonga é, na minha opinião, a melhor faixa do disco. É daquelas canções inquietantes, viciantes, com um ar misterioso que só engrandece a música. Após a nova intro, chamada "Insular", vem "Essas Vidas da Gente", uma música romântica e reflexiva, maravilhosa. O final do disco vêm com " Segura a Onda, DG", em que Humberto brinca com a própria velhice (DG é ninguém menos que Dorian Grey) e termina com "Plano B", que era uma demo lá do Novos Horizontes e encontrou seu espaço em Insular.

   Não existe plano B. Humberto está ficando velho, e é pra valer. Ainda que genialidade não envelheça, Humberto chamou parceiros e criou um disco solo que têm suas peculiaridades muito ligadas ao próprio Gessinger. Recheado de bom humor, letras interessantes e composições que são a cara do líder dos Engenheiros, Insular é um álbum que veio bem a calhar. Assim como veio bem a calhar a decisão de Humberto de exibir sua ilha, chamando parceiros que só fizeram engrandecer o trabalho, e ainda deram a ele a cara de Humberto Gessinger, mais na ativa do que nunca. E pra quem diz que ele esté velho, a gente faz de conta que isso faz parte da vida...

                           
p.s Desculpem o filtro preto estranho, fiz umas mudanças de Layout e parte do texto está com um fundo branco estranho que eu não soube arrumar. Resolvi fazer o post mesmo assim pq sou tosco. Bj

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O que só tem valor quando acaba

     A primeira vez que eu ouvi que a MTV Brasil ia acabar foi em 2006 ou 2007, não me lembro exatamente o ano. Mas foi quando a emissora perdeu quatro de seus melhores VJ`s da época (Sarah Oliveira, Didi Wagner, Thaíde e Edgar Pícoli). Ainda nessa época, a MTV anunciou que sua programação sairia do que o canal sempre pregou: a música. A partir de agora, reality shows e programas de entretenimento seriam os alicerces da nova programação e novos tempos viriam.

   Essa foi a época em que os clipes passaram a ser vistos mais via youtube do que via tv. De certa forma, foi uma decisão lógica, visto que aparentemente ninguém iria esperar um clipe estrear na MTV se ele estava disponível para ser exibido no youtube a qualquer hora. Mesmo assim, o público chiou e a programação nova não agradou tanto.

   Ainda nesse biênio, outros VJ`s considerados monstros da casa se desligaram da emissora. Era fato que a intimidade que o público tinha com eles faria com que se sentisse muita falta, mas os tempos mudavam e a emissora tinha que seguir. Essa época era cheia de boatos sobre um fim dramático da MTV Brasil, que muitos ridicularizavam dizendo que a emissora nem faria falta.

   E então, uma das únicas VJ`s das antigas remanescentes na casa, Penélope Nova, estréia um programa chamado MTV na Rua. Dentre os novos VJ`s contratados, uma tal Marimoon que tinha um blog bem famoso na internet. Um tal Marcelo Adnet , que ninguém sabia bem o que ia fazer ali, e um jornal de humor com dois desconhecidos: Bento Ribeiro e Dani Calabresa.

   Foi pra calar a boca de quem acreditava no fim. A MTV se reerguia de uma quase queda e ainda se reabilitava colocando a música como principal atrativo de sua programação. Eu, que assistia a toda a programação a bastante tempo, me via novamente ansioso pra ver os shows, os programas e até os clipes. Ali eu percebi que eu era um fã daquele canal, que aquele canal era importante pra mim.

   A verdade é que a MTV Brasil nunca foi um primor de emissora. Muita coisa feita ali era de qualidade bem questionável, e isso desde que eu comecei a ver o que passava, ainda com 12 anos e o senso crítico de uma lesma. A qualidade da MTV era refletida dentro do próprio público jovem, que era o principal foco da emissora: Muita gente não via MTV, não gostava da MTV.

    Mas não gostar da MTV não significava não se relacionar com a MTV. Muita gente  não assistia a nada que passasse na emissora, mas dentro da coleção de cd`s tinha aquele acústico MTV Legião, Cássia Eller, Titãs, D2 ou Capital. O MTV ao vivo Raimundos, Ivete Sangalo ou Gabriel, o Pensador. Quem sabe até tinha baixado o Luau MTV dos Los Hermanos, ou o MTV apresenta Dead Fish.

  Isso acontecia porque a MTV sabia que a música conseguia transgredir o rádio, a tv e a relação emissora - telespectador. E é essa relação, além da liberdade de arriscar e de se comprometer com o público que fizeram da MTV Brasil meu canal preferido.

   Gostem dela ou não, se tem uma emissora que arriscava e mudava à medida que a cabeça do jovem brasileiro mudava, era a MTV Brasil. E se o Brasil mudava, se o  jovem brasileiro  mudava, a MTV Brasil acompanhava. Em certo tempo, até as atrações como séries internacionais foram afastadas da programação, dando espaço a programas e produtos nacionais. Há uma evidente valorização do jovem tão carente de produtos voltados para seu próprio público.

   http://diversao.terra.com.br/tv/viacom-confirma-que-assumira-mtv-brasil-emissora-migrara-para-tv-paga,9c4e187233d20410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html

   E agora, faltam cerca de 18 dias para a MTV Brasil sair do ar. Desvinculada do grupo Abril, a emissora migrará para a tv paga, possivelmente mudará de nome e, sobre a administração da VIACOM, passará a dedicar 10 por cento de sua programação para a música e exibirá enlatados importados, programas e reality shows internacionais que serão dublados para o português, sendo apenas mais um canal jovem que acha que globalização é que todos os jovens passaram a ser culturalmente como os jovens norte americanos.
                                                                  


   É claro que eu consumo inúmeros produtos norte americanos, mas será que isso faz de mim, assim como faz de você, caro leitor, um deles? A MTV foi sim criada nos EUA, mas desde que veio pro Brasil, em 1990, mesmo que os clipes de Britney Spears e Linkin Park fossem muito mais exibidos pela emissora do que O Rappa ou Criolo, a MTV Brasil nunca deixou de lado o fato de estar no Brasil, de ser feita para jovens brasileiros. Num país em que não se valoriza o que é nosso, por sermos historicamente levados a crer que o produto internacional vale mais do que o nosso, a única ferramenta televisiva que tinha a liberdade de opinião como principal ponto, está prestes a deixar de existir.

    E o que restará para nós?? Culturalmente, temos a internet, e ainda bem que temos! Os artistas que eu ouço costumam ser excluídos pelas rádios e o único meio pelo qual eu os via e ouvia era justamente a MTV Brasil. Resta para nós a saudade daqueles programas, daquelas piadas e daqueles momentos que beiravam à loucura, momentos que não acreditamos que passariam na tv se não soubéssemos que era a MTV. Resta também a quem, assim como eu, era fã da MTV Brasil, nunca deixar o espírito de valorização do que é nosso  sumir. Nunca deixar o humor e o espírito jovem morrer, pois isso é nunca deixar a MTV Brasil morrer.

   Aos VJ`s, produtores, redatores, câmeras, diretores, artistas, faxineiros, massacration, enfim, todos os que trabalharam para fazer a MTV Brasil, deixo um simples e singelo muito obrigado. Não os conheço pessoalmente, mas vocês fizeram parte da minha vida, do meu crescimento, e pra que alguém deposite tanta afeição e tanta tristeza ao se despedir do que é pra ser um simples canal de televisão, é porque vocês souberam fazer desse canal um meio de comunicação foda! R.I.P, quebraram tudo!!
                 
                                                                    

                                                      

quarta-feira, 17 de julho de 2013

The Following: Entre a genialidade e a total falta de sentido

         E o prêmio de gênero mais difícil de se renovar vai para... Policial, sem sombra de dúvidas. Seja por ser muito batido ou pela cansativa repetição de temas, o gênero policial é, hoje em dia, algo complicado de se mexer. Em filmes e livros, há ainda o apoio de diretores e autores renomados, que por fazerem algo com tempo ou páginas limitadas, conseguem extrair melhor o que querem de seus textos. Quando é pra ser algo maior, como o que é voltado para a tv (séries e novelas, por exemplo), a situação se complica.

       É um fato que a fórmula CSI e  Law and Order já deu o que tinha que dar. Por mais que ainda atinjam sua audiência estipulada, já é mais do que visível o desgaste desse tipo de show, que parece feito para as maratonas de fim de semana do Universal Channel. Não se pode descartar a importância deste tipo de série, mas uma renovação nos casos de polícia era mais do que necessária.

       Kevin Williamson deve ter pensado nisso. Uma renovação no gênero policial. Uma série tão densa e dramática quanto movimentada. Uma mistura de investigação criminal e terror psicológico que vai prender a atenção do telespectador e ganhar credibilidade e dinheiro e respeito. Contando ainda com o ótimo Kevin Bacon como protagonista, "The Following" parecia ser mais do que renovador, parecia ser revolucionário.

                                

      A história gira em torno de dois homens: Ryan Hardy e Joe Carroll. Hardy é um ex agente do FBI que ficou muito famoso por desvendar uma série de assassinatos de garotas cometidas por um aparentemente inocente professor de literatura chamado Joe Carroll. A repercussão foi tanta que até um livro sobre a mente perturbada de Carroll Ryan escreveu.

     A violência dos crimes, que eram inspirados nos contos de Edgar Allan Poe ( que se o caro leitor não conhece eu recomendo com entusiasmo), além do tórrido romance que Hardy acabou tendo com a ex mulher do assassino, Claire Matthews, deram ainda mais fôlego ao caso, que acabou com Carroll condenado e Ryan, apesar da fama e respeito que conquistou, definhando por motivos de saúde.
       
       Solteiro, alcoólatra e utilizando um marca-passo, Ryan continua afastado do FBI no ponto em que a história da série começa. E começa com uma eletrizante fuga de Carroll da penitenciária onde estava preso. Ao ser chamado para ajudar na recaptura de Carroll é que Ryan e o próprio FBI começam a perceber as ligações que o assassino poderia ter fora da cadeia. E uma nova onda de crimes põe todos em alerta.

                                 

           
         Uma nova seita aparece. Seguidores de Joe Carroll, pessoas que de certa forma se sentiam incompreendidas pelo mundo, com um histórico de depressão ou até mesmo de psicopatia, que encontram no livro que Joe escreveu antes de ser acusado de assassinato uma identificação que nunca haviam tido antes com nada no mundo. Os seguidores de Joe Carroll estão agindo e só o homem que penetrou na mente do criminoso pode pará-los agora.

        Esse é o ponto genial de The Following. Ryan Hardy e o FBI contra Joe Carroll e sua misteriosa seita, os "followers", que são civis que se identificam com a obra de Carroll. É uma batalha que vai além dos confrontos armados. Afinal, se Ryan conhece a mente de Joe, Joe  sabe das fraquezas do rival. Os dois homens passam a escrever uma espécie de novo romance policial, no qual são os co-autores, ainda que  rivais.

      Interpretado por Kevin Bacon, Ryan Hardy é um atrativo à parte na história. Descontrolado e inconstante, o protagonista faz jus a seu posto quando mostra lados tão diferentes de sua personalidade e modo de agir. Seu jeito truculento e seu conhecimento como policial o tornam o único homem capaz de parar a seita, pois ele sabe exatamente onde atingir para neutralizar seus inimigos.

                                


      The Following até aqui parece imperdível. Mas a série tem um defeito que acaba comprometendo toda a sua bem montada estrutura. Falo das ações policiais. Elas tem que estar presentes na série, pois o embate psicológico entre os antagonistas, ainda que ponto muito forte, não sustentaria a história. Porém, o que se vê são situações inverossímeis, com um FBI atrapalhado e cometendo erros grotescos, que não passam despercebidos pelo público mais atento.

     Mesmo que seja um erro apenas, o fato dele se repetir constantemente atrapalha o desenvolvimento da história e acarreta sérias críticas ao tão elaborado enredo da trama. The Following anda nesse limiar, nessa tênue linha entre a genialidade encontrada na rivalidade de Ryan e Joe e a completa falta de senso do FBI da série, que acaba comprometendo o seu desenrolar.

     Cercada de críticas de um lado e elogios do outro, a faca de dois gumes "The Following" tem 15 episódios em sua primeira temporada, e é sim uma boa pedida para quem gosta de séries de investigação. Aos mais críticos, porém, será necessária paciência para se passar por cima dos furos de roteiro. É esperar pra ver se em uma futura segunda temporada algumas melhoras sejam feitas, para a série não ter que acabar nas costas de Kevin Bacon.



      


terça-feira, 16 de abril de 2013

Sunadokei: Crônicas de Areia

        Geralmente, eu detesto divisões. Não é bem detestar, na verdade. De certa forma eu não concordo com elas. Divisões como as de gênero musical, tipos de filme ou literaturas diferentes costumam me parecer sempre equivocadas, provavelmente devido às interações e mesclas de estilos que costumam aparecer nestes mesmos gêneros. A única exceção fica em relação a mangás e animes. Shonens, shoujos e seinens são completamente diferentes em tantos aspectos que chegam a evidenciar a organização dura dos japoneses.
     
        Independentemente do grupo ao qual se designam, os mangás shoujos, ou seja, para garotas, sempre foram de longe os mais fracos e desinteressantes do gênero. Isso se dá por várias razões, que vão desde os traços mais pobres e personagens mais rasos e comuns, até a semelhança com um gênero extremamente popular no Brasil, as novelas.

      Afinal, é isso que são os mangás shoujos, grandes novelas! Daquelas com mocinha tímida, vilãzinha venenosa e galã abobalhado. Pode soar preconceituoso, até porque eu não tenho grande experiência com a leitura destes, mas não costuma variar dessa temática escolar. Possivelmente meninas japonesas gostam desse tipo de história assim como brasileiros gostam dos clichês novelísticos.

    Partindo dessas afirmativas, Sunadokei foi um mangá que chegou pra mim despertando desconfianças. Eu costumo ter um "feeling" com mangás, filmes e bandas. É como julgar um livro pela capa, porém de forma positiva. Olho, gosto do que vejo, e compro! Foi arriscado fazer isso com Sunadokei, porém meu "feeling" pelo visto não se engana. O mangá me surpreendeu como nunca.

  
     Sunadokei: O Relógio de Areia (como é chamado no Brasil) conta a vida de Ann Uekusa usando um sistema de capítulos diferente. Cada capítulo que permeia os dez volumes da série se passa em uma idade diferente da protagonista, em uma estação do ano. Ou seja, a história começa no inverno em que Ann tinha doze anos. Isso faz com que o crescimento da garota e dos outros personagens seja rápido e subjetivo. À medida em que ficam mais velhos ficam mais maduros, o que só é perceptível pelos traços da autora.

    Com certeza é o tipo de sistema que não daria certo em mangás shoujos convencionais. A diferença de Sunadokei é a profundidade dos conflitos apresentados. A paixonite adolescente de Ann está lá sim, como em todo mangá shoujo, porém os conflitos familiares e a inconstância da personalidade dos protagonistas dá um tom bem mais interessante à história.

    No enredo, Ann, nascida e Tóquio, muda-se para a vilazinha de Shimane, lugar onde nasceu sua mãe, após o divórcio dos pais. Adaptar-se a um lugar frio, onde todos sabem da vida de todos, se torna um desafio difícil para a garota, que ainda têm que lidar com a avó autoritária e a mãe que passa por um período de profunda depressão.

    Ela acaba encontrando alento quando faz amizade com um morador da cidade, Daigo Kitamura. Os dois vão trabalhar na casa da família nobre da vila e acabam fazendo amizade também com os riquinhos do lugar Fuji e Shika Tsukushima. Um quarteto que, ao longo de seu crescimento, vai viver da descoberta do amor à depressão, passando por momentos de vilania e obsessão pelo outro.


         Já no primeiro volume, a vida de Ann têm uma reviravolta que mostra que o amor adolescente é pano de fundo, e não a verdadeira temática do mangá. É impactante e cruel por parte da autora, mas é extremamente relevante para o crescimento da personagem e para as decisões que ela toma à partir dali. Seus amigos também têm seus dramas pessoais, e uma teia de acontecimentos aparentemente cotidianos, mas de grande importância para a vida deles vai se desenrolando.

      Pode-se dizer que o final de Sunadokei é feliz, porém isso nem é o mais importante. O interessante mesmo é ver a belíssima construção que a autora faz de um período tão intenso como a adolescência, fugindo dos clichês dos shoujos tradicionais e ainda assim mantendo características que acabam sendo fundamentais para a compreensão da história. Dez volumes de uma obra que vale a pena ser lida, toda já publicada no Brasil pela Panini. Experimente!



terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Sobre Django Unchained

                                   
    Ok, este é um post sobre um filme de Quentin Tarantino. Quero primeiramente alertar a quem lê sobre a chuva de elogios que vêm a seguir. Se você não conhece Tarantino (o que é pouco provável) pode ficar meio perdido com uma ou outra referência citada aqui, mas com certeza ficarás curioso em conhecer a obra cinematográfica dele. Enfim, ontem fui ao cinema pra ver seu mais recente trabalho, o faroeste Django Unchained.

    Uma característica que me agrada muito em Quentin Tarantino é que ele é daqueles diretores que deixa bem evidente sua marca em uma produção. Vendo seus filmes, sempre estão lá o humor ácido, a violência exacerbada e aqueles efeitos de câmera que, em mãos erradas, sairiam vexaminosos. O incrível é que mesmo sendo costumeiros nos filmes, essas características parecem sempre se renovar nas mãos de Tarantino. A cada nova produção, a sensação de que é algo inovador, ousado e inédito está lá, mesmo sabendo que o próprio diretor faz isso a algum tempo.
                                                                         
                                                                 
   No novo longa, Django (Jamie Foxx) é um escravo que, com a ajuda do caçador de recompensas Dr. King Schultz (Christoph Waltz)  se liberta de sua condição e passa a tentar resgatar sua esposa, Broomhilda Von Shaft (Kerry Washington), que após se separar dele, trabalha em uma fazenda cujo dono gosta de por seus escravos para lutar até a morte, o rico Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).

    Pessoalmente, acho que é um filme de "coadjuvantes". "Coadjuvantes" entre aspas porque em se tratando de atuações, eles acabam sendo protagonistas. Não que Jamie Foxx tenha se saído mal, pelo contrário, seu Django é um personagem forte e arrogante, mas que por vezes, principalmente nas primeiras partes do filme, demonstra certa inocência, certo medo do mundo, por ter sofrido tanto. O ator consegue expressar esses sentimentos contrários e conflitantes de maneira bem convincente.

   Mas a princípio é King Schultz que prende a atenção. Christoph Waltz é simplesmente sensacional. Mais uma vez ele dá vida a um personagem de maneira magistral. A personalidade de Schultz, sarcástica, irônica e aparentemente no controle de todas as situações em que se mete, para alguns pode lembrar um outro personagem "Tarantinesco", em que o ator também marcou, o coronel Hans Landa, de Bastardos Inglórios. Vendo essa pequena semelhança, Waltz fez dessa vez um personagem com movimentos mais sutis e com expressões mais sérias. Trabalho de quem sabe atuar de verdade. Oscar pra ele academia!
                                               
                                                                 

   Aproveitando a citação a Hans Landa, propositalmente ou não, eu sinto que, em filmes do Tarantino, todo personagem considerado ou tido como vilão, só pelo fato de estar em cena, gera tensão nos outros personagens e em quem assiste. O reencontro de Landa e a judia Shoshanna em um restaurante em Bastardos Inglórios, ou ainda o diálogo final da Noiva e de seu assassino Bill em Kill Bill, são cenas em que não se é possível desgrudar os olhos da tela, afim de não perder o momento em que tudo pode estourar.

   Foi com essa premissa que Leonardo DiCaprio deu vida a Calvin Candie. O ar cínico e pomposo do "vilão", com suas vestimentas alinhadas e cabelos bem penteados, faz o fazendeiro despertar curiosidade desde a primeira cena em que aparece. O ápice de Calvin é na cena do jantar, quando ele conta a história de Ben, explicando a teoria científica da escravidão dos negros. A cena é hipnotizante! Fazia tempo que eu não ia a uma sessão lotada de cinema em que não se ouvia nenhum ruído vindo da platéia.

                                                               
    E o que dizer de Samuel L. Jackson? Eu já ouvi uma vez que foi Quentin Tarantino que fez L. Jackson começar a atuar, quando deu a ele o magnífico e inesquecível Jules Winnfield, lá em Pulp Fiction. Eu até concordo com essa frase, em partes. Não acredito, sinceramente, que Samuel teria capacidade de fazer filmes como, por exemplo "Corpo Fechado" (2000), sem antes ter feito Jules. Em Pulp Fiction ele comprova que é sim um grande ator. E seu personagem em Django é uma redenção ao seu talento.

   Trabalhando na fazenda de Calvin, vive Stephen, um negro velho e manco que têm regalias e adora o jovem fazendeiro vivido por DiCaprio. Racista, as cenas em que o velho percebe que Django é bem tratado pelo patrão e se revolta com isso são hilárias. Stephen é um espécime de vilão cômico que só se encontra em filmes como os de Tarantino.  E Samuel L. Jackson me deixou boquiaberto com sua entrega ao personagem. Atuação perfeita, marcante e inesquecível!

                                                                   
                                                               
  Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora de Django Unchained é um espetáculo a parte. Rap, country, boleros, tudo misturado, porém se encaixando perfeitamente à medida em que o filme avança. Johnny Cash, Luiz Bacalov, James Brown estão presentes. Algumas canções feitas para o filme, encomendadas pelo diretor, também se destacam.
                                                                     
                                                               
   É óbvio que o filme levanta polêmicas. Neste caso, especialmente em relação à escravidão nos Estados Unidos. Para quem presta atenção, porém, fica claro que Tarantino não quer nem pretende passar nenhuma lição de História em Django. O contexto histórico é deixado de lado. À época na qual o filme se passa (dois anos antes da guerra civil americana), serve apenas para marcar a época em que o filme é contado. Nenhuma posição contra ou a favor da escravidão é apontada, ainda bem!

   Independente dos inúmeros elogios aqui deixados, é claro que polêmicas surgem entre cinéfilos e fãs de Tarantino. Cada novo trabalho do diretor gera enquetes sobre qual seu melhor filme e comentários que dizem que ele não sabe mais dirigir, ou que sua originalidade acabou. Eu mesmo não tenho nem terei Django como meu filme preferido dele. O que importa é que Django Unchained prova que Tarantino é mestre em manter traços originais e ainda se renovar, inspirando cineastas e cinéfilos, críticos ou não, a sempre assistirem suas obras, e sempre se curvarem a sua ousadia e genialidade. Os aplausos ao fim da sessão de ontem se repetirão pelo mundo, e com certeza nós mal podemos esperar pra ver o que Tarantino criará a seguir.
                                     
                                                               


                         

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Jeito Felindie e a aventura em torno de um tributo



        Há um tempo atrás fiquei hipnotizado com uma versão que os Los Hermanos fizeram da música "Traumas", de Roberto Carlos. Impressionado em ver como a banda conseguiu dar uma sonoridade própria a uma das mais pessoais e por que não dizer angustiantes composições do robertão. Nessa época eu já achava incrível a ideia de um artista cantar, à sua própria maneira, uma canção de outra pessoa. Há inúmeros exemplos do quanto isso pode ser legal e criativo, e vice-versa. Só pra exemplificar, ainda no âmbito Roberto Carlos, Adriana Calcanhoto fez uma impecável versão de "Do Fundo do meu Coração" enquanto o Jota Quest conseguiu piorar a sempre irritante "Além do Horizonte".

                                                          Los Hermanos - Traumas

                                                                        Calcanhoto  

      Dá primeira vez em que me deparei com o projeto "Jeito Felindie", confesso que dei risada. Não por subestimá-lo, ainda não o tinha ouvido. Eu ri porque esse projeto povoou a minha imaginação por muito tempo. Artistas indies cantando músicas populares, dando versões mais elaboradas e voltadas a seus próprios estilos. Genial, ousado e perigoso. Ainda mais no Brasil. Ainda mais se esses artistas resolverem cantar pagode. Ainda mais se esse pagode for o do Raça Negra

     Pra quem não se lembra, seja por falta de memória ou por opção, o Raça Negra foi o grupo de pagode mais popular dos anos noventa. O "Raça" renovou o som do pagode (sim, houve uma renovação no pagode), dando uma levada própria e fazendo com que todas as bandas que viessem depois deles seguissem essa levada. A sua infância sabe o resultado disso, caro leitor (que nasceu nos 90, claro). Pra se ter uma ideia, a banda entrou para o guiness book com a canção mais executada nas rádios em um único dia de todos os tempos.

    Eis que, em plenos anos 10, Jorge Vagner, um jornalista e produtor, resolveu reunir várias bandas e intérpretes do cenário indie brasileiro para fazer releituras das canções justamente do Raça Negra. A princípio,  pode parecer inviável para seus ouvidos, que assim como os meus, têm aversão ao tal pagode. O resultado, no entanto, acaba sendo surpreendente.

    Entre as muitas críticas e comentários que eu li a respeito do projeto, há quem ouça por puro entretenimento. Curiosidade, diversão e nostalgia também se fazem presentes. Seja qual for o motivo, é extremamente divertido reparar em como algumas letras acabam soando renovadas e até bonitas quando saem de um estilo tão limitado quanto o pagode. As interpretações das bandas são, obviamente, bem variadas e diferentes entre si, mas acabam agradando a todos os gostos.

    Quer experimentar? Que tal sair um pouco da rotina e se surpreender com um projeto divertido, simples, porém ousado. Nostalgia, curiosidade, indicação de algum blog, seja qual for sua motivação, deixe um pouco de lado seus costumeiros gostos musicais e vêm ver o que eles fizeram, você pode acabar até gostando. O cd completo está noYoutube, no vídeo abaixo.

                                                                 
P.S. =Primeiro post de 2013, ainda não cansei de você, futilmenet útil!! xD