quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Whoa, Nelly: Clássico Subestimado


  Folk, Hip Hop, Ska, uma certa dose de Reggae e, quem diria, MPB. Fazer um álbum misturando tantos estilos distintos e produzir algo diferenciado era a intenção da canadense Nelly Furtado em 2000, época do lançamento de seu primeiro álbum, intitulado "Whoa, Nelly". O álbum foi lançado numa época em que boybands e cantoras pop dominavam as paradas musicais ao redor do mundo, e surpreendeu pela originalidade e mistura de ritmos, sendo sucesso de crítica e público. Seu maior sucesso foi a canção I`m like a bird, mas houve outros singles lançados, como "Turn off the litghs" e "Shit on the Radio".
                                                          
                                            

   Chama a atenção o fato de, hoje em dia, esse disco não ser mais tão citado quando se fala de bons álbuns de música pop. Seja porque atualmente a imagem vale mais do que a música em si, seja porque a própria Nelly Furtado não tem mais tanta expressão na mídia, o que, infelizmente, é necessário quando se faz música pop. O fato é que a própria Nelly conseguiu fazer um álbum que chamasse mais a atenção do que seu excelente álbum de estréia.

   Trabalhando com o hitmaker Timbaland, em 2006 Nelly lançou Loose, o terceiro álbum de sua carreira, que, através das músicas "Promiscuous" e "Say it Right", tornou-se um dos grandes discos daquele ano e    colocou-a pra sempre nas pistas de dança. Focado no pop, o disco não é ruim, mas acabou, de certa forma, delimitando a variedade musical sempre abordada pela cantora. 

                                                                 Capa do álbum Loose    

   Tal delimitação pode ser vista nas recentes investidas de Nelly Furtado. Seus recentes singles "Big Hoops (Bigger the better) e "Spirit Indestructable", são excelentes faixas bem ao estilo Nelly de antigamente, mas não alcançaram o sucesso de suas músicas "pop" do álbum Loose, e acabaram por também passar longe das músicas como I`m like a bird.

    Isso faz de "Whoa, Nelly", portanto, uma espécie de álbum subestimado. O disco foi ofuscado pelo hip hop eletrônico de Loose, pela postura sexy que a cantora assumiu em sua época "promiscua". Entretanto, o brilho da bela e interessante mistura de estilos do álbum permaneceu com o passar do tempo. Doze anos depois, é uma pérola da música pop.

                                                                     
  
   O álbum começa com a semi acústica "Hey, man" já mostrando que aquele não era um álbum pop comum. Refrão forte, letra inspirada, surpreendentemente bom. É sucedida pela leve batida de "Shit on the radio", cujo refrão é acústico, evidenciando a mistura de estilos. "Baby Girl" e "Legend" fecham o começo do álbum. A última tem um surpreendente ritmo de samba.

  O hip hop começa a dominar o álbum a partir da quinta faixa, a já citada "I`m like a bird". Após ela "Turn off the lights" e "Trynna finda way" mantém o clima festeiro, que só dimiui em "Well, Well", depois da única baixa do disco, a chatíssima "Party".
   
  O belo clima intimista do final do álbum começa com "My Love grows deeper everyday", que traz um belo instrumental voltado para o reggae, mesmo clima de "I will make you cry", décima primeira faixa. Como nunca pode faltar uma grandiosa balada, "Scared of you", penúltima música, têm essa função. Metade da música é em português, e apesar do chatíssimo sotaque de Portugal, é interessante como a melodia de nosso idioma faz diferença na música. O álbum se encerra com "Onde Estás", nova faixa em português, voz e violão, clima intimista e chave de ouro.

   Versatilidade e uma incrível mistura de culturas, referências e estilos. É o que Nelly Furtado têm de melhor e que faz de seu primeiro álbum um clássico do pop. Um clássico ofuscado pela própria indústria da música e por suas exigências de imagem e postura condizentes com o mercado radiofônico. É torcer para que ainda haja espaço para álbuns tão completos e criativos e para artistas com origens e referências tão plurais quanto a canadense que fala português.
                                                                
                                                                  

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

LP1: Ódio transformado em Soul


   Eu costumo dizer que, para uma cantora fazer um disco excelente, independente do estilo, ela precisa estar com raiva de um homem. Precisa ter sofrido, precisa guardar ódio no coração e expulsá-lo através da música. Se pegarmos apenas exemplos mais recentes, "21" de Adele (2011), e "Back to Black" de Amy Winehouse (2007), seguem essa premissa e são o que são. Sem contar os álbuns desse estilo que consagraram cantoras, como o clássico Jagged Little Pill, de Alanis Morissette (1997).

   Joss Stone, nome de destaque na Soul music contemporânea, costumava ser mais romântica, mais suave em seus discos. Pelo menos nos dois primeiros, "The Soul Sessions"(2002) e "Mind, Body & Soul" (2003). Eu confesso que não ouvi os sucessores destes, apesar de achar que seguem o mesmo estilo . Tampouco sei ou me importo com a vida pessoal de Joss. O que importa é que, ao que parece, ela resolveu desabafar em seu primeiro disco lançado de forma independente, LP1. O resultado?? O melhor disco feminino de 2011.

    LP1 não tem nenhum hit, nenhuma música de destaque nas rádios. É um álbum intenso, uma coleção de sentimentos espelhados em 10 faixas. Sem muita enrolação, sem muita metáfora, sem nenhuma firula. De começo, até dá a impressão de ser um disco calmo, delicado. "Newborn", a primeira faixa, fala até sobre dar as mãos e permanecer unidos. Uma bela faixa de abertura que esconde o que vêm logo depois. A raiva de Joss começa em "Karma", segunda faixa e a melhor do álbum. É daquelas músicas que impressionam pela energia que carregam.
                                                    clipe da música Karma

   Se a segunda faixa é explosiva, com guitarras afiadas e bateria marcante, o disco segue, musicalmente, com uma vibe mais tranquila. Joss, porém, descarrega tudo  nas letras fortes, consistentes e amarguradas. Amargura que também se evidencia na voz da cantora, carregada, entristecida. "Don`t Start Lying to me Now", "Last One to Know", "Cry myself to Sleep", "BoatYard", até a conclusiva "Take Good Care".

                                                                 

   É possível encontrar o disco com duas faixas bônus : "Picnic for two" e "Cutting the Breeze". Na minha opinião, as músicas são uma espécie de prelúdio para 'The Soul Sessions Vol 02". O novo lançamento da cantora que traz versões de vários sucessos (ou nem tanto), num clima que, de certa forma, contrasta com o  álbum anterior. "Cutting the Breeze", ouço dizer, é mais uma música country do que uma música soul.

LP1 é, na minha opinião, o melhor disco feminino lançado em 2011. É um disco tão intenso e sentimental. Há nele uma naturalidade, uma energia diferenciada. É um disco que agrada tanto quem gosta apenas de sentir a música quanto quem gosta de analisá-la instrumento por instrumento, nota por nota. Joss Stone se firma como uma das melhores cantoras da atualidade, quem dirá de todos os tempos, com uma discografia invejável, cheia de grandes álbuns. E o mais legal é que o melhor deles foi lançado de forma independente, evidenciando o talento da cantora e a sua dedicação à boa música.