domingo, 4 de outubro de 2015

Story Time: Uma Tragédia Grega

              Há um ditado que diz que “apenas um homem que não tem nada a perder pode fazer qualquer coisa” e é exatamente sobre isso que se trata a franquia God of War. Com seu começo no Playstation 2 e se estendendo ao Playstation 3 e Playstation Portable, esse jogo se tornou a definição do gênero Smash Button.


                Lançado em 2005 pela Santa Monica Studio, God of War traz a história de Kratos, um grande guerreiro espartano que é enganado pelo deus da guerra Ares, que o manipula a matar sua própria família. Após muito tempo procurando um novo caminho, Kratos é encontrado por Athena que quer o ajudar a derrotar Ares, pois ele está influenciando demais a vida dos mortais. É revelado ao espartano que existe a caixa de Pandora, uma arma poderosa o suficiente pra que ele consiga matar o deus, completando sua vingança e resolvendo o problema dos deuses do Olimpo.






                O que nem Kratos nem Athena contavam era que a abertura da caixa de Pandora iria gerar consequências maiores para o mundo. Com os males que antes estavam selados, agora libertos, o mundo começa a se corromper, e os deuses começam a temer o único mortal que pode mata-los. O Olimpo que após a morte de Ares recompensou Kratos com o posto de deus da guerra, agora o teme mais do que tudo, pois ele não tem nada a perder, e talvez até seja mais poderoso do que um deus comum. Zeus, ouvindo o apelo de seus súditos, a arma mais poderosa do Olimpo pelo peito de Kratos, assim o matando.


                A única coisa que os deuses não esperavam era que antigos inimigos voltassem. Apesar de o espartano ter sido mortalmente ferido, uma antiga entidade o dá uma nova oportunidade. Gaia, a titã, ela entrega uma nova oportunidade ao Kratos, de ir atrás das tecelãs e mudar o seu destino, e se ele o fizer, ele poderá se juntar aos titãs num poderoso ataque contra o Olimpo. Assim dito, foi feito, o guerreiro acha as três irmãs, as mata, e usa seus poderes para voltar no fatídico momento em que Zeus o abateu. Após uma grande batalha, quando Kratos ia desferir o golpe final contra seu algoz, Athena se sacrifica para proteger Zeus para que ele volte para o Olimpo.







                 Mas ainda não acabou, agora com o poder das tecelãs, Kratos salva os titãs antes de eles perderem a antiga guerra contra os deuses. Assim, nas costas de Gaia e munido de poderosos aliados, o espartano começa a subir o Olimpo. A subida é sangrenta, e Kratos matará qualquer um que se encontrar entre ele e Zeus, mas a cada deus que ele mata, o mundo vai sendo destruído aos poucos. É descoberto que para matar o rei do Olimpo, será necessário abrir novamente a caixa de Pandora, que agora está segura dentro de uma chama mortal, que só pode ser aberta com o sacrifício da própria Pandora.


                Apesar de tudo isso acontecer, Kratos encontra a caixa vazia, o que não fazia sentido. Quando ele abriu a caixa da primeira vez, ele usou dos males da Terra para derrotar Ares, o que significava pelo que Athena havia lhe dito que agora deveria ter a arma mais poderosa sobrando, a esperança. Mas ela estava errada, Kratos há tanto tempo atrás, havia usado dessa mesma arma para derrotar Ares, o que significava que os deuses foram infectados pelos males da caixa. Mas nada mais importava sua família, seus compatriotas, até mesmo Pandora, todos que Kratos se importou estavam mortos, e ele só conseguia ver o que ele veio destruir. Um último embate contra Zeus, o espartano se desfaz de todas suas armas e o derrota com as próprias mãos.




"Hope is what makes us strong. It is why we are here.
Is what we fight with when all else is lost."



                Mas agora com o reino do Olimpo destruído e o mundo em ruínas só tinha mais uma coisa a se fazer. Apesar de que com esse poder, ele poderia governar o mundo, Kratos decide que o esse seria o fim de sua vingança, e ela só poderia acabar de uma forma. Ele decide se suicidar, assim espalhando o poder da esperança por toda a humanidade, dando a população tudo que eles precisavam para reconstruir o mundo por eles mesmos.



domingo, 27 de setembro de 2015

Audição Cega, Visão Atenta

Uma emissora em desespero por um programa de sucesso e uma fórmula holandesa que juntava estrelas da música, shows e cadeiras giratórias. Quando a rede de tv americana NBC resolveu fazer uma versão estadunidense de "The Voice", criou um fenômeno mundial que ganha versões em diferentes países e faz estrondoso sucesso por aí. Para a NBC, foi o alívio necessário, para o público, uma ótima opção de diversão. "The Voice" se consolidou como marca e sinônimo de audiência e sua exibição mobiliza um bom público em torno de uma competição musical com alguns elementos diferentes dos demais programas.


Embora exista uma versão nacional para o The Voice, quero me concentrar na versão estadunidense, que estreou sua 9ª temporada na última semana. O programa chama a atenção pelas fases de seleção de candidatos, principal atrativo da competição. As chamadas Blind Auditions, onde os técnicos ficam de costas para apenas ouvir a voz do candidato, sem julgá-lo por outros parâmetros, é a principal marca e o que dá origem ao nome "The Voice".

Confesso que, apesar do interessante jogo de escolhas de candidatos e o fato dos técnicos formarem times e treinarem quem os escolhe (o poder de decisão na mão do candidato), o que me fez acompanhar a primeira temporada do "The Voice" americano foi o time de técnicos. Cee-lo Green e Christina Aguilera são dois artistas que admiro e queria ver apenas a desenvoltura dos dois. Logo, porém, fiquei completamente imerso e viciado naquele jogo entre técnicos e candidatos. "The Voice" se tornou um grande vício e aquela competição por algum tempo era tudo o que eu gostava de ver e rever.


injustiçada, vencedora

Foi provavelmente por ver demais que o "The Voice" começou a me desencantar. O primeiro sinal era o desânimo quando começava a fase final do programa, as apresentações ao vivo. Ali mora a decepção. É nos shows ao vivo que o programa deixa de inovar, e principalmente é nos shows ao vivo que a fórmula "The Voice" comprova sua fraqueza.

Em princípio eu pensava ser culpa do público que vota utilizando parâmetros além da voz. Mas com o tempo, percebe-se que até os técnicos observam os candidatos além da voz. O julgamento apenas pela voz é falácia e acaba cedendo a imagem, seja pelos técnicos ou quando o poder de decisão passa para o público.

Grande exemplo disso é a falta de critério em torno das eliminações quando elas passam para o âmbito do telespectador. É claro que vozes diferentes despertam atenções e criam fãs diferentes, além disso cada semana o artista tem de se renovar para capturar de novo a atenção do público. Porém, a cada edição o público votante fica mais perdido. Se em uma temporada bons candidatos são eliminados por cantarem muito alto ou por se repetirem demais, em outra sagra-se vencedor quem mais grita ou quem cantou basicamente o mesmo tipo de música durante todo o  programa (leia-se quinta e oitava temporada).



injustiçada, vencedora =`(

 Em questão de gostos pessoais, é claro que há diferenças entre o que o público acaba gostando. O que irrita aqui é que a voz, principal mote do programa, uma hora ou outra é deixada de lado. A imagem influencia sim nas decisões de técnicos e público, o que faz com que o "The Voice" oscile muito em sua proposta. Quem acompanha com tanto afinco percebe isso claramente.

Não que "The Voice" seja uma farsa. O programa já teve e tem momentos incríveis, a interação dos técnicos diverte e não há uma temporada que não surja alguém sensacional. O problema é que, depois de tanto acompanhar, percebe-se que a voz não é o único critério utilizado por público e técnicos para definir quem é realmente a voz, o que deixa tudo muito sem sentido. Fica um vazio dentro do sucesso, o programa se torna a mais cruel das competições musicais, pois aquilo que prega e tenta vender não acontece. Resta esperar que o público que vota perceba que seu julgamento está muito além da voz, ou se conclui que o público é mais cego do que as audições do programa.


domingo, 20 de setembro de 2015

Who Watches the Watchmen?

Um trauma e um desejo inerte de se fazer o bem. Esses são os componentes essenciais dos heróis clássicos. Normalmente esses mesmo heróis são atemporais, o Homem-Aranha sempre será jovem, o Super-Man nunca envelhecerá, mas e se seres humanos de verdade fossem retratados como super-heróis as coisas seriam diferentes. “Watchmen” trata de uma forma mais “pé no chão” o conceito de herói,  como os seus traumas não só são um estopim para fazê-los agir, mas também afetam eles psicologicamente.

Sendo lançado em formato de 12 edições pela DC Comics em 1986, a história foi escrita por Alan Moore, chamado carinhosamente de Mago dos Quadrinhos. Esse gênio foi responsável por vários das mais incríveis historias em quadrinhos, dentre suas obras primas estão “V for Vendetta”,  “Killing Joke” e “The League Of Extraordinary Gentlemen”O escritor tende a tratar de problemas mais sérios do que é usual pra histórias em quadrinho até mesmo em "Watchmen" ele prefere usar problemas reais como estupro e prostituição para a criação dos traumas dos personagens






         Vendo o mundo sobre outra perspectiva, além de trazer o mundo real pras história pessoais dos personagens, Moore também mostra como seria diferente o mundo com heróis. Como isso afetaria o conceito de vilão, como eles agiriam durante guerras, a reação do governo e da mídia a respeito do fenômeno. É muito interessante o próprio mundo que os heróis vivem, ele é muito rico de detalhes, desde outros heróis que se aposentaram, ou que morreram, a ação deles durante a Guerra do Vietnam. Tudo que os personagens vivenciam aprimora eles próprios, eles vão mudando de acordo com o tempo que se passa. Alguns usam o fato de lutar contra o crime pra expressar seus sentimentos reprimidos, outros o fazem para se sentirem com algum controle na vida e poucos que fazem pelo bem verdadeiro conforme o tempo ou mudam de perspectiva ou deixam de ser heróis. 

          A história começa muitos anos após o ínício de uma lei que proíbe a atuação de heróis nos EUA, mas um antigo herói (Comediante) é morto, quando seus antigos parceiros resolvem investigar o que aconteceu eles se encontram em uma grande conspiração. A trama é intercalada por flashbacks dos tempos áureos dos heróis, quando suas ações eram apreciadas e o governo contava com eles. Esse formato de flashbacks é interessante pois sempre se mostra os pontos de mudança dos personagens, o que aconteceu para que se tornem o que são e a perspectivas deles sobre o mundo.


"Ouvi uma piada uma vez: Um homem vai ao médico, diz que está deprimido. 
Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador 
onde o que se anuncia é vago e incerto.
O médico diz: "O tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade,
 assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo."
O homem se desfaz em lágrimas. E diz: "Mas, doutor... Eu sou o Pagliacci."
Boa piada. Todo mundo ri. Rufam os tambores. Desce o pano. "


            Concluindo, o história em quadrinhos é uma obra de arte, sem tirar nem por. Mas o tratamento de assuntos bem maduros torna a recomendação meio circunstancial, pois não são todas as pessoas que gostam de ser jogadas em uma realidade tão cinza e suja. Então eu deixo aqui a minha mais alta apreciação, mas se quiserem ler estejam avisados de que tem um conteúdo muito adulto.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Um pouco de Música: Years & Years

Reinvenção e nostalgia. Estas são as palavras de ordem da banda que se destacou nas paradas britânicas no primeiro semestre de 2015. O Years & Years mistura sintetizadores que lembram o cenário eletrônico dos anos 90, ao mesmo tempo que repaginam com elementos do R&B o som viciante da banda. Como não poderia deixar de ser, os clipes  são sempre bem criativos e a aposta em uma identidade visual chamativa coloca-os em grande evidencia e destaque no cenário pop atual.


Muitas coisas funcionam bem no Y&Y. As letras são bem escritas e a voz do vocalista Olly Alexander é diferente e casa com a proposta do som que a banda faz. De certa forma, o Years & Years consolida o eletropop como um estilo de música que consegue resgatar elementos usados em exaustão e tirar deles algo bastante inovador. O som aqui é mais concreto, ousado e interessante que boa parte dos artistas e bandas que se arriscaram no estilo, mesmo que estas tenham entregado ótimos trabalhos, como fizeram o Two Door Cinema Club e o Foster the People, citando exemplos recentes.

"Communion", disco de estréia da banda é uma sucessão de acertos e surpresas. O que ás vezes é chamado de "música indie" acabou ganhando aqui um ótimo representante. Ele começa com a faixa introdutória Foundation, e a sequência inicial é com as grudentas Real, Shine, Take Shelter (melhor faixa em minha opinião) e Worship.

"do what you want tonight"

 Eyes Shut, sexta faixa, mostra que não se trata de um disco completamente voltado para as pistas, evidencia o talento musical dos integrantes da banda e tem ótimos vocais, o que a torna uma faixa especial. O disco segue com Ties, as ótimas King e Desire e sua sequência final (Gold, Without, Border e Memo), embora seja menos chamativa não compromete a beleza do trabalho.

O Years & Years tem chamado cada vez mais atenção com um som que aparentemente não tem nada de muito novo mas que busca em elementos mais antigos sua sofisticação. A banda tem som e identidade visual bem montadas e mesmo que esses elementos sejam voltados para o consumo, acabam mostrando  o som atual, jovem e bem feito que eles fazem. Communion é um disco fácil de ouvir, gostar, viciar e achar (está aí pela internet) e a banda demonstra que o eletropop, mesmo que exaustivamente utilizado atualmente, ainda tem fôlego e pode apresentar coisas ótimas.

b-side excelente





domingo, 6 de setembro de 2015

O Fim Glorioso De Uma Jornada

De tempos em tempos, a indústria de vídeo games elege um jogo como o epítome das novas tecnologias, no ano de 2015 esse cargo pertence ao trabalho final da trilogia “The Witcher”. Sendo considerado por muitos a melhor tradução das capacidades técnicas da oitava geração de consoles de mesa, “The Witcher 3: Wild Hunt” é o jogo favorito para ganhar o prêmio de “Game Of The Year”.


O inicio da PI (propriedade intelectual) foi nas mãos de um autor polonês chamado Andrzej Sapkowski que publicava contos sobre bruxos caçadores de monstros numa revista de ficção científica de nome “Fantastyka”. Os vários contos escritos depois foram compilados em livros de romance que seguiam um bruxo chamado Geralt of Rivia. Após muitos livros de sucesso considerável, uma desenvolvedora de games polonesa conhecida como “CD Projekt RED” transformou as histórias do autor em uma trilogia de jogos no estilo RPG ocidental.




Os jogos dão uma visão à história de Geralt of Rivia, assim como os livros, mas trazem junto fatores que apenas essa mídia possui. Pelo fato do gênero ser RPG e isso levar a escolhas do jogador para definir o andamento da história, isso faz com que todas as interações com personagens importem mais para o jogador num nível pessoal.


A desenvolvedora acertou em cheio no aspecto mais importante do jogo, fazer com que o jogador se sinta como um bruxo. Tudo que é utilizado para caçar os monstros é feito de uma maneira interessante, com rastreios, pesquisas, preparo e a otimização de equipamento. A terceira instalação da franquia tentou alcançar todos os limites que teve oportunidade em questões técnicas, os mapas são maiores que qualquer outro jogo lançado até então, os gráficos utilizam uma grande parte do potencial da nova geração, a trilha sonora é uma obra de arte por si só. Além disso, o jogo trás para quem jogou os antecessores um grande elenco de antigos personagens que estarão presentes para o fim da história de Geralt.





Apesar de o jogo ter acertado até nos aspectos de RPG, como a progressão de equipamentos e sistema de missões, nem tudo é um mar de rosas. A desenvolvedora tentou alcançar os limites estabelecidos pela tecnologia, mas talvez tenham dado um passo maior que a perna. O jogo na versão atual é repleta de defeitos, desde carregamentos que nunca acabam, problemas na administração de jogos salvos, travamento completo do jogo. Os responsáveis tentam corrigir esses bugs conforme são reportados, mas isso resulta em atualizações ridiculamente grandes que não corrigem tudo, por que além das correções vêm juntas mudanças em estética e no equilíbrio de itens, coisas que deveriam ter sido aperfeiçoadas e finalizadas antes do lançamento do jogo. E por mais que a história seja bem pessoal para quem jogou os anteriores, se o jogador for um novato da franquia ele vai acabar se sentindo como um estranho na conversa entre velhos amigos, meio deslocado.


Finalizando, o game tem seus méritos, mas ele está longe de ser perfeito ou até mesmo o epítome da nova geração de consoles de mesa, pois ele não trabalha bem com suas próprias limitações. E a respeito dele ser o “Game Of The Year”... Bem... O ano não acabou.



domingo, 30 de agosto de 2015

Você tem o que é preciso pra fazer parte desta sociedade?

  Disfunção social. Depressão crônica. Vício em drogas e a constante sensação de que você não faz parte desse mundo. Você não se encaixa aos gostos e desejos das outras pessoas, que são nada mais do que reprodutores de vaidades falsas e da ilusão de liberdade em que vivemos. Você enxerga além disso, enxerga o mal que a sociedade faz aos homens, enxerga que há alguns poucos com o poder de controlar tudo. E, de repente, você ganha a oportunidade de mudar isso.



 Partindo de questionamentos sociais sobre liberdade de escolha e humanidade, a série Mr Robot traz ao longo de um enredo recheado de mistérios e bons personagens uma crítica social atual e bem estruturada. A primeira temporada, que termina no próximo dia 02/09, surpreendeu pela produção caprichada alinhada a crítica feroz do texto.

O perfil do protagonista Elliot, um hacker que trabalha em uma companhia de segurança online, completamente anti social e com a estranha mania de hackear todos ao seu redor, afim de chantageá-los quando encontra seus "podres", pode soar como clichê. No entanto, seu perfil anti social é o estopim tanto para o enredo central da série quanto para  reflexão que aqui se tenta passar.

 Elliot tem que proteger de um ataque online de um misterioso grupo de hackers a chamada "E (vil) Corporation", conglomerado empresarial que dita o consumo das pessoas estando em todos os ramos de comércio possíveis. A Evil Corporation é responsável por uma tragédia pessoal na vida do protagonista, e é aí que ele questiona se deve ou não ajudá-los.

 Elliot vai ter então contato com o grupo que quer derrubar o conglomerado do mal. Revolucionários ou perturbadores da ordem? Entre ajudá-los ou enfrentá-los, o protagonista se defronta com seus próprios defeitos e com as fragilidades ideológicas de uma sociedade falsa e apodrecida.


 Em relação à reflexão que a série se propõe a fazer, o principal mote é ilusão de liberdade que vivemos. O poder se encontra na mão de poucos e estes parece que são os que fazem as escolhas por todos. Mr Robot tem um texto feroz e explícito em relação a essa problemática, e a série consegue despertar no espectador o senso crítico que cobra de seus próprios personagens.

 Quanto ao enredo, é interessante a sutileza com que a série coloca sua crítica em qualquer ideologia política. A crueldade da chamada mão invisível equipara-se ao despreparo da revolução que quer subverter esse sistema. Elliot, protagonista intelectualmente esclarecido mas emocionalmente despreparado, é lançado em meio ao furor de um mundo cruel que luta internamente contra si mesmo, e coloca-se entre a vontade e a impossibilidade de mudar tudo.

 Mr Robot conta, portanto, a história de um jovem rebelde que, ao não encontrar lugar no mundo em  que vive, percebe que deve tentar modificá-lo. Uma crítica a racionalidade confusa e ambígua de nossa sociedade, a série mistura perfeitamente um enredo cheio de reviravoltas a crítica social que acaba ultrapassando o enredo e atinge em cheio o espectador. Prestes a encerrar sua primeira temporada, a série é muito bem produzida e tem um elenco deveras competente, fazendo quem assiste parte da história, afinal, estamos assistindo uma crítica a nós mesmos.





domingo, 23 de agosto de 2015

Velhos Amigos

               No final do ano de 2011 foi anunciado um novo projeto da Maurício de Souza Produções. Chamada hoje em dia de Graphic MSP  (termo apropriado pelo formato, Graphic Novels), este projeto trás de volta à tona os personagens criados pelo mestre Maurício de Souza de outra forma. Cada edição foca em um dos vários núcleos de personagem do autor,  trazidos aqui com novo traço e novas histórias, algumas até mais sérias.





               A primeira revista foi lançada em Outubro de 2012. “Astronauta – Magnetar” trata do personagem Astronauta em suas viagens espaciais. Essa graphic novel já trata de um assunto mais adulto do que normalmente é visto nas revistas comuns da produtora. Viajando pelo espaço sozinho, é vista em primeira mão a solidão a que o Astronauta está submetido em sua missão. A revista também apresenta em forma de flashbacks uma grande parte da história do protagonista, mostrando sua motivação para ter embarcado na sua jornada e ter abandonado seus entes queridos.







               Representando a turminha do limoeiro, os irmãos, Vitor e Lu Cafaggi, lançam “Turma da Mônica – Laços”. A história de aventura bota os quatro personagens favoritos da produtora procurando Floquinho, o cachorro verde de Cebolinha. A trama é simples mas  muito divertida, mostrando quão unido o grupo verdadeiramente é. Dentre as quatro revistas dessa primeira parte do projeto, essa é definitivamente a mais emocionante, trazendo de volta os sentimentos que permearam a nossa infância, finalizando com uma conclusão completamente tocante a respeito da amizade entre os personagens.





               Para mudar a visão do personagem, Gustavo Duarte lançou como terceira revista do selo, “Chico Bento – Pavor Espaciar”. O personagem é conhecido por ter histórias que retratam a vida na roça, mais perto da flora e da fauna do país, mas na graphic novel, há uma trama de ficção cientifica para o pobre Chico, no clima do cliché de abduções em lugares afastados da cidade, onde alienígenas fazem experimentos com seres vivos. Dentre as revistas da primeira leva, ela é a que carrega mais referências de outros núcleos, assim deixando a história com alguns easter eggs.





                Terminando o primeiro grupo do Graphic MSP, lançado por Shiko, “Piteco – Ingá” trata da vida pré-histórica, demonstrando a interação entre vilas e o papel das crenças dos povos em suas ações sociais. Misturando personagens mortais com as divindades de sua religião, a história em quadrinhos bota Piteco numa jornada para ajudar Thuga. A aventura quase parece com a de um herói da mitologia grega, a constante mistura entre deuses e homens traz uma pitada de magia para o mundo pouco desenvolvido do núcleo.


               A leitura das revistas é uma boa forma de revisitar esses velhos amigos que conviveram com tantas gerações brasileiras sendo vistos e levados para outra perspectiva. Combinado com a diversidade de gêneros de história apresentados até agora, cada revista carrega um clima único, como se os próprios personagens tivessem crescendo com os leitores e desenvolvendo novas facetas de suas personalidade. Agora o que tem a ser feito é aguardar o que o selo reserva de novo para o consumidor.

domingo, 16 de agosto de 2015

No Angel: Clássico Subestimado



Chamar de subestimado um disco que vendeu mais de 21 milhões de cópias, sendo o disco mais vendido do ano de 2001, com músicas até hoje executadas pelas rádios e até com tema de novela no Brasil pode parecer um exagero, quem sabe até mesmo um equívoco. Porém, em uma comparação com os posts anteriores que chamei de clássicos subestimados (este, este, e este), pode-se dizer que No Angel, da Dido, é até então o mais subestimado de todos.

Os discos citados antes se tornaram subestimados por sempre existir um outro trabalho do mesmo artista que acaba ficando mais conhecido do que o "clássico" em questão. Dido, porém, faz o caminho inverso. Depois de No Angel, a cantora, embora tenha lançado discos excelentes, não superou ou sequer alcançou o sucesso do seu álbum de estréia.

Isso pode ter várias razões. A principal delas, obviamente, é a excelência do disco. Com um dos timbres femininos mais bonitos do planeta, letras pautadas por melancolia e batidas eletrônicas suaves mescladas a instrumentos acústicos, No Angel é uma obra prima. O disco não tem defeitos e gruda à primeira ouvida. Dido chegou impressionando e conquistando público e crítica. Sucesso absoluto.


Thank You solo

 A canção mais conhecida de No Angel é "Thank You", que à época foi utilizada por Eminem em sua canção Stan, com direito a Dido participando do clipe. O sucesso de "Stan" impulsionou o disco (Eminem era um dos maiores artistas da época) e foi mantido com outras canções como "Hunter", "Here With Me" e "My Lover`s Gone".

Thank You ft Eminem

 Mas afinal, se não foram os trabalhos posteriores, o que tornou No Angel um clássico subestimado? Onde está Dido, que parece ter desaparecido do mundo da música? As canções do disco ainda podem ser ouvidas em emissoras de rádio por aí, porém Dido parece ter sido sufocada por seu próprio trabalho.

O "problema", em aspas porque aqui isso é relativo, é a semelhança dos trabalhos posteriores ao álbum de estréia de Dido.  Os discos que vieram depois ficam à sombra de sua "matriz". Dido parece ter encontrado um certo lugar comum em "No Angel", e seus trabalhos seguintes não tem vida própria, sendo todos uma espécie de continuação do primeiro. 



Prova maior disso é o segundo disco da cantora, "Life for Rent". O disco é o maior em sucesso em relação ao primeiro, porém as canções dos dois são semelhantes a ponto de nem sabermos que se tratam de discos diferentes. Dido, embora tenha feito um trabalho excelente em No Angel, parece ter feito desse disco uma fórmula, repetida à exaustão e, consequentemente, esgotada.

No Angel é um dos melhores discos femininos dos anos 90, é reconhecido e reprisado até hoje, agradável aos ouvidos e viciante. Porém, Dido tentou e tenta repetir a fórmula do disco desde seu lançamento, o que faz com que suas canções soem a anos as mesmas, cópias umas das outras, deixando seu trabalho, como um todo, em um certo lugar comum. Um lugar comum excelente, porém sem divisões e aparentemente sem amadurecimento, sem mudanças. Infelizmente, todo o trabalho da cantora sofre com isso, pois tem-se a impressão que Dido canta as mesmas coisas a anos, e mesmo que sejam coisas excelentes, acabam sendo deixadas de lado.


domingo, 9 de agosto de 2015

Prepare-se Para Morrer

Todas as pessoas de certa forma imaginam ser um personagem principal de um filme chamado “sua vida”. Assim, elas se sentem no direito de reclamar o que todo protagonista merece, um final feliz. Apesar de que é verdade que todas as pessoas deveriam ser felizes, não é sempre o caso. Então quando uma mídia resolve tratar esse outro aspecto do fim de um personagem ela se torna interessante.

                Em setembro de 2011, a desenvolvedora de games From Software lançou Dark Souls, um jogo ambientado num cenário medieval fantástico que é frequentemente lembrado por ter mecânicas altamente punitivas ao jogador. O sucessor de Demon Souls foi um sucesso tanto com a crítica quanto com os fãs, vendendo mais de 2,3 milhões de cópias ao redor do mundo. O sucesso escalou tanto que em 2014 foi lançado o seu sucessor Dark Souls 2 e na E3 de 2015 foi anunciado Dark Souls 3.





Apesar de Dark Souls ser comentado por sua dificuldade brutal, o sentimento que o jogador leva da experiência é a atmosfera muito pesada e escura. O marketing foi feito em cima da jogabilidade, com suas frases “You will die” ou o nome da versão especial do jogo “Prepare to Die Edition”, ainda sim não é a única coisa oferecida. Dentro do próprio jogo, tudo gira em torno de passar para o jogador um sentimento de desespero.

No mundo fictício de Lordran há uma maldição que torna as pessoas imortais, assim qualquer batalha travada não é uma questão de vida ou morte, e sim uma questão de força de vontade. Esse aspecto também é refletido no seu gameplay que é muito desafiador, e fracasso traz consequências fortes.  O jogo revolve em torno de lutar contra o inevitável, e como isso é pessoalmente importante, pois é possível criar significado através da falta de significado.

                O objetivo do jogo é que o personagem principal cumpra uma profecia, que promete que ao fim de sua jornada, ele saberá qual o destino dos mortos-vivos. A história do jogo é apresentada de uma forma incomum, sendo necessário ler descrições de magias e itens para que se entenda melhor como o mundo funciona e as motivações dos diversos personagens que aparecem durante sua jornada.





                O diretor Hidetaka Myazaki trabalhou muito bem a dualidade no jogo, evitando clichês. Luz, trevas, morte, vida, esses aspectos são tratados de forma muito original, e o mesmo se aplica para os heróis e vilões, ninguém é incontestavelmente mau, assim como ninguém é verdadeiramente altruísta. Cada personagem do jogo luta pelo que acredita, ou para lidar com seus demônios pessoais, e isso é importante, pois os mortos-vivos que abandonam suas jornadas geralmente ficam loucos com sua própria imortalidade.


                Apesar de o jogo ter um cenário medieval, com cavaleiros de armadura lutando contra dragões, ele está longe de ser um conto de fadas. Não interessa se a história ou os jogadores retratam os personagens como heróis, vilões ou aventureiros, cada ação tem sua consequência e não importa que eles não façam nada de errado, tragédia ainda os encontrará. Não existem finais felizes em Lordran.





domingo, 2 de agosto de 2015

Os Sentimentos da Máquina

   A expectativa humana em imaginar o futuro é uma prerrogativa sempre presente em nosso cinema, literatura e na imaginação humana em geral. Uma das ideias mais concebidas a esse respeito é a do futuro onde as máquinas são parte integrante e presente em nossa vida. E ainda mais adentro dessa perspectiva, há aquele ramo da arte que pensa as máquinas como seres com sentimentos, sensações que os aproximam dos humanos de forma aterrorizante.

  As máquinas, criações humanas, ao sentirem e pensarem como nós, nos superam por serem aparentemente mais fortes. É a criatura que se revolta contra o criador ao se aproximar dele. Grandes obras da literatura como as de Isaac Asimov exemplificam essa tendência de nosso pensamento. A ficção científica fascina justamente por essa incerteza.

  O objetivo dessa postagem, porém, é analisar uma tendência contrária a essa. Não contrária como um todo, pois a aproximação de uma máquina aos sentimentos humanos não deixa de existir aqui. Porém, aqui, há uma máquina que mantém seu objetivo de fazer o que faz com uma perfeição quase mecânica, porém humana o suficiente pra traduzir esse sentimento humano em arte, em música. Uma máquina que, ao entrar em contato com seu sentimento, produziu a perfeição chamada Florence Welch.



  Desde que despontou na música a cerca de 5 anos com a impactante "Dog Days are Over" , do maravilhoso álbum de estréia "Lungs", que Florence + The Machine se destaca com um som único e uma imagem que une beleza e simetria. É algo pouca vezes falado em relação a banda, mas a visível dedicação a imagem é intrínseca ao som. O visual de clipes, shows e apresentações é carregado de referências, todas dispostas junto ao repertório da banda, de forma a criar um produto artístico musical e teatral novo e fascinante.

  Neste ano essa valorização visual somada aos sentimentos humanos da máquina alcançou um novo nível. Com o disco "How Big, How Blue, How Beautiful", Florence + The Machine traduz em música uma melancolia e uma contemplação perfeitas, atingidas com a precisão de uma máquina, humanas em sua visceralidade e em sua dor.

 É o melhor disco da banda, uma experiência de autoconhecimento  e maravilhamento. Florence continua criativa e parece cada vez mais entregue ao seu próprio trabalho. É um disco grande, triste e lindo, em proporções novas e precisas, precisas como só uma máquina pode fazer.

 Com uma sonoridade tão perfeita, é claro que a imagem da máquina também se aperfeiçoa. Junto ao disco, Florence + The Machine começaram uma saga chamada "The Odyssey." Esta saga consiste em videoclipes das faixas do álbum, aparentemente independentes, mas que se interligam. Nos clipes, Florence aparece em uma jornada em busca do amor, de si mesma, ainda não se sabe com exatidão.

A multiplicidade de interpretações aos vídeos ganhou os fãs e a internet, e é exatamente a incerteza do significado que faz da saga audiovisual da banda uma maneira nova e intrigante de contemplá-la. Nesta semana, "The Odyssey" ganhou o quarto e quinto capítulos de sua história, sendo um deles a melhor faixa do disco, "Queen of Peace".




  Grandioso, triste, lindo. Na vanguarda da ficção científica, traduzindo a precisão e a mecanização em sentimento, contemplação e maravilhamento, Florence + The Machine, seja com sua música ou com a experiência "The Odyssey", se mostra como uma das melhores experiencias musicais atuais, maquinalmente perfeita, sentimentalmente intrigante e impactante. Que venham mais capítulos, que venha mais perfeição.




Capítulo 01, pra quem quiser começar.

domingo, 26 de julho de 2015

A Experiência Sense8


  Dona de uma espécie de "febre" nos últimos meses, a série Sense 8 estreou sua primeira temporada na Netflix e logo chamou a atenção. Não era pra menos, pois o elenco é bem selecionado e a série foi produzida pelos irmãos Wachowski, os responsáveis por um clássico do cinema contemporâneo, Matrix. Em sua tentativa de inovar, os Wachowski criaram um roteiro intrigante e, como de costume, deram margem para inúmeras discussões em torno das interpretações que podem ser feitas por quem assiste a série.

O maior acerto da série é justamente a concepção ainda não totalmente definida mas muito intrigante dos "sensates". Pessoas diferentes, que nunca se viram e vivem em diferentes locais do mundo, mas que passam a  compartilhar memórias, sentimentos e situações. Com vidas completamente diferentes, os oito protagonistas são colocados em uma experiência completamente nova e estranha.

Além disso, há a perseguição que se inicia contra eles por parte de uma misteriosa organização. O perseguidor, conhecido como sussurros, não tem pistas concretas de seus alvos, mas está disposto a caçá-los e eliminá-los como aparentemente já fez antes com outros grupos. Como complicador, sussurros tem a habilidade de identificar todo um grupo de "sensates" ao apenas olhar um membro deste grupo nos olhos.

Com essa premissa, a série consegue jogar com seu próprio enredo e com o espectador. A conexão entre essas oito pessoas , iniciada com o suicídio da personagem interpretada por Daryl Hannah em partes parece ser psíquica, cientificamente criada, em outras soa como um mistério sobrenatural, um fenômeno além da compreensão humana.

O que seriam os "sensates"? Mutantes? Humanos psiquicamente evoluídos? Ou, como é pautado na própria série, são pessoas que alcançam um nível maior de humanidade ao se ligarem? Os protagonistas trocam memórias, experiências, habilidades e emoções, da dor ao prazer. De alguma forma, os oito são um só, e é isso que os apavora e muda suas vidas.


Há, porém, uma certa impaciência nos primeiros episódios da temporada. O constante compartilhamento de histórias cotidianas tem a clara função de apresentar os personagens e o mundo em que cada um vive, além de, é claro, mostrar a estranheza da experiência em conjunto que eles passam a ter. Enquanto isso ocorre, a investigação e a principal história da série se arrastam em encontros e desencontros inúteis.

É claro que conhecer os personagens é parte importante de Sense 8 e a temporada faz isso muito bem. Porém, o desenvolvimento poderia ser mais sucinto, o que aceleraria o desenrolar das situações. Pessoalmente, a investigação e os perigos que os "sensates" correm juntos os apresentam tão bem quanto suas vidas cotidianas.

Ainda assim, o final da temporada é fluente, conexo e emocionante, com direito a cenas incríveis como a que ocorre em um concerto de música clássica. A série deixou uma premissa interessante, afinal, há muitas respostas a serem dadas, e conseguiu fazer do grupo que, de repente se vê unido por algo que não sabe o que é, um conjunto harmonioso de personagens com facetas diferentes.


 Sense 8 é uma produção que devolve aos Wachowski, dessa vez em um seriado, a chance de mostrar algo diferente, elaborado e viciante. Mesmo a já dita "enrolação" nos primeiros episódios tem seu sentido e acaba deixando o enredo completo. Uma temporada de certo modo introdutória, mas que já mostrou o potencial que a série pode ter, especialmente agora que o gatilho já foi disparado. A série ainda não teve uma segunda temporada confirmada, o que alguns atribuem aos altos custos da produção. Porém, o sucesso e a expectativa por um segundo ano possivelmente serão maiores do que isso, afinal, personagens e público ainda estão curiosos para saber "o que está acontecendo."



segunda-feira, 22 de junho de 2015

Um Pouco de Música: Childish Gambino

                                            



O que faz um bom rapper? Boas letras, velocidade e habilidade em suas rimas ou boas batidas por onde ele fala o que pensa? Talvez seja sua performance ao vivo. A resposta a essas perguntas é um mistério pra mim, pois eu não sei fazer rap. Sei que exige habilidade, mas não sei fazer, prefiro não me arriscar. Mesmo não sendo um estilo musical do qual sou conhecedor, sempre me deparo com um ou outro rapper que chama a atenção com boas músicas, batidas e rimas.

Esse é bem o caso de Childish Gambino. No caso específico dele, acho que o que o faz incrível é a versatilidade de Donald Glover, a mente por trás desse alter-ego. Glover é ator, comediante, escritor, produtor e músico e tenta mesclar todos esses talentos para fazer de sua música algo não só muito bom como também original.



 O disco "Camp", de 2011, primeiro que tive contato, é excelente em todos os sentidos. Além de bom rapper, as batidas de Gambino saem do comum e incluem elementos eletrônicos, de jazz, mixados com efeitos vocais e rimas rápidas. Um trabalho claramente elaborado e que consegue viciar inclusive e principalmente quem, assim como eu, não entende nada de rap.



 Infelizmente, tantos talentos em uma só pessoa podem atropelar-se e em algum momento deve-se escolher com qual deles continuar, Donald Glover parece passar por esse dilema, pois disse em entrevista à MTV americana que os dias de Gambino podem estar contados e ele quer se dedicar a outras coisas (já não basta o Troy Donny??).

Ainda assim, vale a pena abrir seus ouvidos para Childish Gambino. Os discos Camp e Because The Internet são bastante surpreendentes e satisfatórios. Outra característica são os clipes do rapper, comumente divertidos e bem produzidos. Seja lá qual for a resposta, e mesmo não sendo um especialista em rap, ouso dizer que Childish Gambino tem tudo o que é preciso pra ser um bom rapper.



domingo, 12 de abril de 2015

Um Pouco de Música: Johnny Hooker

Então tá, vamos falar de "sofrência". Um termo que acabou ficando bem popular recentemente por conta de uma música em específico que não precisamos nomear. Sofrência é algo que existe a muito tempo na música. Quem nunca ouviu falar em Waldick Soriano, Reginaldo Rossi e esses cantores que tocam naquelas juke boxes de barzinhos sujos das grandes cidades. Estes senhores são aqueles que com letras simples e canções carregadas de elementos hoje tidos como "bregas" fizeram muito sucesso cantando suas mágoas e dores. A chamada "sofrência"que agora se fala, é uma espécie de resgate desse tipo de música, mas obviamente que de forma genérica e forçada.

Waldick e a essência da sofrência

Quando me indicaram o disco de Johnny Hooker me disseram que era "sofrência pura". Eu logo descartei a possibilidade de ouvir, pois essa sofrência nova que alguns "artistas" vem fazendo é algo que não me atrai. Eis que alguns meses depois, me deparo com uma canção que me hipnotiza os ouvidos. Era de uma pureza, de uma força, de um talento e de uma interpretação singulares. Uma canção pulsante, nordestina em sua alma. Aquela música parecia que tinha vida própria. Obviamente que fui procurar o responsável por aquilo e acabei reencontrando aquele cantor que havia descartado anteriormente, o tal Johnny Hooker. Detesto generalizações.


"Alma Sebosa", canção acima, é sofrência pura. Não só na letra, mas como um todo. A interpretação, a composição em si, dão aquela sensação de que o intérprete está realmente sentindo tudo aquilo o que canta. E está mesmo. Johnny Hooker faz isso com maestria. É possível ver sua performance somente ao escutá-lo. O desespero, a dor. O cantor coloca sua alma na canção, o que a torna pura, visceral, viciante, desesperada.

E Hooker tem nessa entrega sua principal característica. O seu disco "Eu Vou Fazer uma Macumba pra te Amarrar, Maldito!", como  o próprio nome já mostra, é uma coleção de sentimentos gritados, chorados e rasgados em canções elaboradas, que misturam elementos do tropicalismo com estilos clássicos como o frevo e o bolero.


 Johnny Hooker é uma grata surpresa pra quem gosta de música brasileira. Seu disco é cheio de elementos surpreendentes e sua interpretação é explosiva. Juntando tudo isso a suas letras, podemos dizer que ele sim é um artista de sofrência. Não como um termo generalizado, o que acabou acontecendo com a palavra, mas de verdade, pois seu sentimento que perpassa a letra da canção. Escrever uma letra triste pode ser bem fácil, mas no caso de Johnny Hooker, sua música parece refletir seu espírito, o espírito de um pernambucano talentoso, orgulhoso, apegado a suas origens e inovador ao mesmo tempo, mas acima de tudo, o espírito da verdadeira sofrência, aquela deliciosa que se transforma em música.

domingo, 8 de março de 2015

Um pouco de música: Stromae

                                                                     
 Numa improvável mistura de Bélgica, Ruanda, Hip Hop, música eletrônica e a língua francesa, pode-se esperar qualquer resultado. Elementos muito diferentes podem (ou não) se combinar de formas tão distintas que o produto final acaba sendo imprevisível. Imprevisível, aliás, é um adjetivo que cabe muito bem à música resultante dessa mistura. Uma música imprevisível, surpreendente e viciante, vinda da inspiração de um jovem cantor que você precisa conhecer, o maestro  Stromae.


 Paul Van Harver é o nome por trás do jovem nascido em Bruxelas, Bélgica, em 1985. Seu pai era Ruandês e o contato que tiveram foi muito pequeno. Apesar de parecer uma informação trivial, Stromae vai acabar abordando esse assunto em sua música mais à frente. Essa é, aliás, uma ótima característica da música dele, pois quando se procura as traduções de suas músicas, as letras são sempre interessantes.

  Cantar em francês é um diferencial considerável para Stromae. Me parece que deixa a música dele com um charme e um destaque muito especiais. Mas esse não é o único trunfo. Muito bem produzidas, as músicas misturam batidas eletrônicas e de hip hop, são dançantes e nada repetitivas, o que acaba sendo bem surpreendente no meio eletrônico. Junte a isso as performances e clipes sensacionais, e temos um artista que consegue surpreender à cada música.




 A música da apresentação acima é "papaoutai", onde Stromae fala da distância em relação a seu pai, que segundo dizem ele viu menos de vite vezes durante sua vida. Ela faz parte do excepcional disco "Racine Carrée", disco de 2013, onde o cantor mostra sua excelência e a qualidade de sua mistura, cantando sobre seu pai, sobre as diferenças entre os sexos, sobre os desabafos de alguém apaixonado, enfim, um disco dançante que não fala sobre o ato de dançar. 

 Stromae é irreverente, ousado e tem um som único. Uma qualidade de música pop muito pouco encontrada hoje em dia. Infelizmente seu trabalho ainda não é tão conhecido no Brasil, embora uma música dele tenha sido tocada à exaustão por aqui em 2011 (admita, você gostava muito dessa). Esperemos que ele continue irreverente daqui pra frente, pois ele tem muito a oferecer com sua música imprevisível.