domingo, 2 de agosto de 2015

Os Sentimentos da Máquina

   A expectativa humana em imaginar o futuro é uma prerrogativa sempre presente em nosso cinema, literatura e na imaginação humana em geral. Uma das ideias mais concebidas a esse respeito é a do futuro onde as máquinas são parte integrante e presente em nossa vida. E ainda mais adentro dessa perspectiva, há aquele ramo da arte que pensa as máquinas como seres com sentimentos, sensações que os aproximam dos humanos de forma aterrorizante.

  As máquinas, criações humanas, ao sentirem e pensarem como nós, nos superam por serem aparentemente mais fortes. É a criatura que se revolta contra o criador ao se aproximar dele. Grandes obras da literatura como as de Isaac Asimov exemplificam essa tendência de nosso pensamento. A ficção científica fascina justamente por essa incerteza.

  O objetivo dessa postagem, porém, é analisar uma tendência contrária a essa. Não contrária como um todo, pois a aproximação de uma máquina aos sentimentos humanos não deixa de existir aqui. Porém, aqui, há uma máquina que mantém seu objetivo de fazer o que faz com uma perfeição quase mecânica, porém humana o suficiente pra traduzir esse sentimento humano em arte, em música. Uma máquina que, ao entrar em contato com seu sentimento, produziu a perfeição chamada Florence Welch.



  Desde que despontou na música a cerca de 5 anos com a impactante "Dog Days are Over" , do maravilhoso álbum de estréia "Lungs", que Florence + The Machine se destaca com um som único e uma imagem que une beleza e simetria. É algo pouca vezes falado em relação a banda, mas a visível dedicação a imagem é intrínseca ao som. O visual de clipes, shows e apresentações é carregado de referências, todas dispostas junto ao repertório da banda, de forma a criar um produto artístico musical e teatral novo e fascinante.

  Neste ano essa valorização visual somada aos sentimentos humanos da máquina alcançou um novo nível. Com o disco "How Big, How Blue, How Beautiful", Florence + The Machine traduz em música uma melancolia e uma contemplação perfeitas, atingidas com a precisão de uma máquina, humanas em sua visceralidade e em sua dor.

 É o melhor disco da banda, uma experiência de autoconhecimento  e maravilhamento. Florence continua criativa e parece cada vez mais entregue ao seu próprio trabalho. É um disco grande, triste e lindo, em proporções novas e precisas, precisas como só uma máquina pode fazer.

 Com uma sonoridade tão perfeita, é claro que a imagem da máquina também se aperfeiçoa. Junto ao disco, Florence + The Machine começaram uma saga chamada "The Odyssey." Esta saga consiste em videoclipes das faixas do álbum, aparentemente independentes, mas que se interligam. Nos clipes, Florence aparece em uma jornada em busca do amor, de si mesma, ainda não se sabe com exatidão.

A multiplicidade de interpretações aos vídeos ganhou os fãs e a internet, e é exatamente a incerteza do significado que faz da saga audiovisual da banda uma maneira nova e intrigante de contemplá-la. Nesta semana, "The Odyssey" ganhou o quarto e quinto capítulos de sua história, sendo um deles a melhor faixa do disco, "Queen of Peace".




  Grandioso, triste, lindo. Na vanguarda da ficção científica, traduzindo a precisão e a mecanização em sentimento, contemplação e maravilhamento, Florence + The Machine, seja com sua música ou com a experiência "The Odyssey", se mostra como uma das melhores experiencias musicais atuais, maquinalmente perfeita, sentimentalmente intrigante e impactante. Que venham mais capítulos, que venha mais perfeição.




Capítulo 01, pra quem quiser começar.

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