terça-feira, 29 de outubro de 2013

20 Anos de "Jack" e a Perspectiva Gótica do Futuro Burton

  Há incríveis e velozes vinte anos estreava nos cinemas norte americanos o primeiro longa metragem em stop-motion da história. "O Estranho Mundo de Jack", dirigido por Henry Selick, teve origem num poema escrito anos antes por Tim Burton e revolucionou o jeito de se fazer cinema de animação e até de contar histórias. Os personagens sombrios do filme, moradores da cidade do Halloween, e principalmente seu líder, Jack Skellington, se tornaram muito populares entre os jovens e crianças da época, mesmo com seu aspecto assustador. O filme confirmou que o estilo Burton de fazer cinema estava, em 1993, no topo em quesito inovação, direção, trilha sonora e enredo.

                                                            
                                                    

    Já nessa época, Tim Burton gerava discussões em torno de seu estilo. Se, por um lado, suas produções eram sempre elogiadas por maquiagem, direção de arte e a sempre marcante trilha sonora de seu eterno parceiro de trabalho Danny Elfman, haviam sempre os depreciadores e críticos dessas obras macabras. A própria Disney, na época do lançamento de "Jack", preferiu colocar como selo do filme a produtora Touchstone Pictures por achar os personagens e a história do filme sombrios demais para a" imaculada e sempre inocente marca Disney".

 O termo gótico já serviu para inúmeras e diferentes formas de arte, dentre estas a arquitetura da baixa idade média (séculos XIV-XV), ou ainda aquele conhecido ramo da literatura romântica, cujas histórias se passavam em cemitérios e casas mal assombradas. No final dos anos 70 e durante boa parte dos anos 80, a juventude da época abraçou o chamado "Movimento Pós- Punk", que trouxe à moda as roupas pretas, cabelos despenteados e poesias (aqui também entra a música) com aspecto sombrio e trágico.

   Tim Burton é um discípulo do Pós-Punk, e se o gótico já havia sido incorporado pela moda e música, por que não reatualizá-lo e trazê-lo ao cinema? No fim dos anos 80, quando começa sua carreira de cineasta, Tim Burton tem em suas mãos uma nova possibilidade de falar e mostrar a cultura gótica.


   Com enredos interessantes, cenários riquíssimos e arte impecável, Tim Burton traz para o público um estilo próprio de fazer cinema. Seus filmes, sejam animações, curtas metragens ou longas, tem um peculiar senso de humor e um lado sombrio atraente e encantador. Entre os sucessos de público e crítica do autor, "Os Fantasmas se Divertem (1988)" e "Edward, Mãos de Tesoura (1993)" são até hoje clássicos renomados de fim de século.

    Mas os elogios não eram unânimes, e as críticas a Burton também ganharam espaço. Á princípio, poderiam ser culpa das produtoras, que achavam que o estilo gótico de Burton funcionaria em todos os aspectos que o diretor trabalhasse. Como exemplo disso temos a franquia Batman dirigida e posteriormente produzida por ele. Ainda que com uma arte impecável e trilha sonora instigante, a saga do homem morcego nas mãos de Burton saiu para os fãs desastrosa ( ressalvas aqui ao segundo filme, Batman - O Retorno, que tem um Danny Devito sensaconal e uma Michelle Pfeiffer maravilhosa perfeita sensual chupa Halle Berry), e causou um estrago em seus quatro filmes que só foi devidamente consertado na franquia posterior, de Christopher Nolan.

                                          


   O que importa, enfim, é que Tim Burton inseriu e consolidou seu estilo gótico e macabro, inclusive brincando com outros gêneros (como a ficção científica em "Marte Ataca") durante os anos que se seguiram. Vieram sucessos como "A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça" (1999), alguns também em animação, como "James e o Pêssego Gigante" (que, particularmente, me dá arrepios) e alguns fracassos retumbantes, como "Planeta dos Macacos" (2001), em que só se salva a trilha sonora.

  Enfim, anos 2000:



 Pode ser por uma nova mentalidade da juventude, que quer inovações, ou talvez por um desinteresse por filmes sem tanta ação e com histórias mais elaboradas; Talvez o próprio estilo gótico tenha caído novamente em desuso ou ainda um trágico desgaste do estilo cinematográfico, o que é bem relativo, mas é fato que Tim Burton, atualmente, está fora de moda.

   Ainda é possível encontrar por aí acessórios com a cara esquelética de Jack Skellington estampada, ou referências ao Beetlejuice em séries de tv ou nas comemorações de dias das bruxas, mas parece que as obras do diretor perderam o encanto em torno do grande público, transformando-o em um diretor de aspecto cult.

   Não que Tim Burton não fosse cult anteriormente. Pode-se dizer que ele sempre foi cult, mas o que se vê agora é um cara cujos filmes encantam apenas uma parcela do público que já conhece e gosta das características do diretor, Não havendo mais interesse por parte de quem vai ao cinema buscando entretenimento.

   Tim Burton hoje em dia encontra sucesso em filmes cuja bilheteria não impressiona, como "Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas" (2003), um de meus preferidos, " Sweeney Todd, O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet " (2007),  ou a animação "A Noiva Cadáver" (2005), que até fez um relativo sucesso. Quando se trata de tentativas de filmes que atraiam o grande público, porém, o que se vê são os sempre presentes elogios à arte, mas acompanhados dessa vez de fortes críticas a enredo.

  Esses filmes criticados têm uma coisa em comum: São todos adaptações."A Fantástica Fábrica de Chocolates" (2005), "Alice no País das Maravilhas" (2011) e "Sombras da Noite" (2012), esse último de uma antiga série de tv americana. Goste desses filmes ou não (eu particularmente adoro Sombras da Noite), é fato que eles são uma grande prova de que a arte de Tim Burton não é mais uma fábrica de dinheiro, o que por um lado é até bom, pois agora a tendência, na teoria, é que ele tenha mais liberdade para trabalhar, visto que não se colocam expectativas o que ele fará a seguir, distanciando-o das modinhas e cortes que ele poderia ser obrigado a fazer.

                                       

    Terminar esse post sem falar sobre a eterna parceria com Johnny Depp e Helena Bonham Carter seria um pecado. Aqueles dois já são parte integrante do jeito Tim Burton de fazer cinema. Um jeito que parece não ter mais a magia dos tempos de lançamento de "O Estranho Mundo de Jack". Ainda assim, Tim Burton tem muitos seguidores e fãs por aí que não ligam para números ou para o que os críticos dizem, visto que os mesmos críticos que hoje falam mal são aqueles que um dia elogiaram. Se Tim Burton está fora de moda, melhor pra nós, que adoramos amar o que é estranho, o que é lúdico, o que é gótico. Feliz Tim Burton, Feliz Halloween!!



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