sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O que só tem valor quando acaba

     A primeira vez que eu ouvi que a MTV Brasil ia acabar foi em 2006 ou 2007, não me lembro exatamente o ano. Mas foi quando a emissora perdeu quatro de seus melhores VJ`s da época (Sarah Oliveira, Didi Wagner, Thaíde e Edgar Pícoli). Ainda nessa época, a MTV anunciou que sua programação sairia do que o canal sempre pregou: a música. A partir de agora, reality shows e programas de entretenimento seriam os alicerces da nova programação e novos tempos viriam.

   Essa foi a época em que os clipes passaram a ser vistos mais via youtube do que via tv. De certa forma, foi uma decisão lógica, visto que aparentemente ninguém iria esperar um clipe estrear na MTV se ele estava disponível para ser exibido no youtube a qualquer hora. Mesmo assim, o público chiou e a programação nova não agradou tanto.

   Ainda nesse biênio, outros VJ`s considerados monstros da casa se desligaram da emissora. Era fato que a intimidade que o público tinha com eles faria com que se sentisse muita falta, mas os tempos mudavam e a emissora tinha que seguir. Essa época era cheia de boatos sobre um fim dramático da MTV Brasil, que muitos ridicularizavam dizendo que a emissora nem faria falta.

   E então, uma das únicas VJ`s das antigas remanescentes na casa, Penélope Nova, estréia um programa chamado MTV na Rua. Dentre os novos VJ`s contratados, uma tal Marimoon que tinha um blog bem famoso na internet. Um tal Marcelo Adnet , que ninguém sabia bem o que ia fazer ali, e um jornal de humor com dois desconhecidos: Bento Ribeiro e Dani Calabresa.

   Foi pra calar a boca de quem acreditava no fim. A MTV se reerguia de uma quase queda e ainda se reabilitava colocando a música como principal atrativo de sua programação. Eu, que assistia a toda a programação a bastante tempo, me via novamente ansioso pra ver os shows, os programas e até os clipes. Ali eu percebi que eu era um fã daquele canal, que aquele canal era importante pra mim.

   A verdade é que a MTV Brasil nunca foi um primor de emissora. Muita coisa feita ali era de qualidade bem questionável, e isso desde que eu comecei a ver o que passava, ainda com 12 anos e o senso crítico de uma lesma. A qualidade da MTV era refletida dentro do próprio público jovem, que era o principal foco da emissora: Muita gente não via MTV, não gostava da MTV.

    Mas não gostar da MTV não significava não se relacionar com a MTV. Muita gente  não assistia a nada que passasse na emissora, mas dentro da coleção de cd`s tinha aquele acústico MTV Legião, Cássia Eller, Titãs, D2 ou Capital. O MTV ao vivo Raimundos, Ivete Sangalo ou Gabriel, o Pensador. Quem sabe até tinha baixado o Luau MTV dos Los Hermanos, ou o MTV apresenta Dead Fish.

  Isso acontecia porque a MTV sabia que a música conseguia transgredir o rádio, a tv e a relação emissora - telespectador. E é essa relação, além da liberdade de arriscar e de se comprometer com o público que fizeram da MTV Brasil meu canal preferido.

   Gostem dela ou não, se tem uma emissora que arriscava e mudava à medida que a cabeça do jovem brasileiro mudava, era a MTV Brasil. E se o Brasil mudava, se o  jovem brasileiro  mudava, a MTV Brasil acompanhava. Em certo tempo, até as atrações como séries internacionais foram afastadas da programação, dando espaço a programas e produtos nacionais. Há uma evidente valorização do jovem tão carente de produtos voltados para seu próprio público.

   http://diversao.terra.com.br/tv/viacom-confirma-que-assumira-mtv-brasil-emissora-migrara-para-tv-paga,9c4e187233d20410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html

   E agora, faltam cerca de 18 dias para a MTV Brasil sair do ar. Desvinculada do grupo Abril, a emissora migrará para a tv paga, possivelmente mudará de nome e, sobre a administração da VIACOM, passará a dedicar 10 por cento de sua programação para a música e exibirá enlatados importados, programas e reality shows internacionais que serão dublados para o português, sendo apenas mais um canal jovem que acha que globalização é que todos os jovens passaram a ser culturalmente como os jovens norte americanos.
                                                                  


   É claro que eu consumo inúmeros produtos norte americanos, mas será que isso faz de mim, assim como faz de você, caro leitor, um deles? A MTV foi sim criada nos EUA, mas desde que veio pro Brasil, em 1990, mesmo que os clipes de Britney Spears e Linkin Park fossem muito mais exibidos pela emissora do que O Rappa ou Criolo, a MTV Brasil nunca deixou de lado o fato de estar no Brasil, de ser feita para jovens brasileiros. Num país em que não se valoriza o que é nosso, por sermos historicamente levados a crer que o produto internacional vale mais do que o nosso, a única ferramenta televisiva que tinha a liberdade de opinião como principal ponto, está prestes a deixar de existir.

    E o que restará para nós?? Culturalmente, temos a internet, e ainda bem que temos! Os artistas que eu ouço costumam ser excluídos pelas rádios e o único meio pelo qual eu os via e ouvia era justamente a MTV Brasil. Resta para nós a saudade daqueles programas, daquelas piadas e daqueles momentos que beiravam à loucura, momentos que não acreditamos que passariam na tv se não soubéssemos que era a MTV. Resta também a quem, assim como eu, era fã da MTV Brasil, nunca deixar o espírito de valorização do que é nosso  sumir. Nunca deixar o humor e o espírito jovem morrer, pois isso é nunca deixar a MTV Brasil morrer.

   Aos VJ`s, produtores, redatores, câmeras, diretores, artistas, faxineiros, massacration, enfim, todos os que trabalharam para fazer a MTV Brasil, deixo um simples e singelo muito obrigado. Não os conheço pessoalmente, mas vocês fizeram parte da minha vida, do meu crescimento, e pra que alguém deposite tanta afeição e tanta tristeza ao se despedir do que é pra ser um simples canal de televisão, é porque vocês souberam fazer desse canal um meio de comunicação foda! R.I.P, quebraram tudo!!