Todas as pessoas de certa forma
imaginam ser um personagem principal de um filme chamado “sua vida”. Assim,
elas se sentem no direito de reclamar o que todo protagonista merece, um final
feliz. Apesar de que é verdade que todas as pessoas deveriam ser felizes, não é
sempre o caso. Então quando uma mídia resolve tratar esse outro aspecto do fim
de um personagem ela se torna interessante.
Em
setembro de 2011, a desenvolvedora de games From Software lançou Dark Souls, um
jogo ambientado num cenário medieval fantástico que é frequentemente lembrado
por ter mecânicas altamente punitivas ao jogador. O sucessor de Demon Souls foi
um sucesso tanto com a crítica quanto com os fãs, vendendo mais de 2,3 milhões
de cópias ao redor do mundo. O sucesso escalou tanto que em 2014 foi lançado o
seu sucessor Dark Souls 2 e na E3 de 2015 foi anunciado Dark Souls 3.
Apesar de Dark Souls ser
comentado por sua dificuldade brutal, o sentimento que o jogador leva da
experiência é a atmosfera muito pesada e escura. O marketing foi feito em cima
da jogabilidade, com suas frases “You will die” ou o nome da versão especial do
jogo “Prepare to Die Edition”, ainda sim não é a única coisa oferecida. Dentro
do próprio jogo, tudo gira em torno de passar para o jogador um sentimento de
desespero.
No mundo fictício de Lordran há
uma maldição que torna as pessoas imortais, assim qualquer batalha travada não
é uma questão de vida ou morte, e sim uma questão de força de vontade. Esse
aspecto também é refletido no seu gameplay que é muito desafiador, e fracasso
traz consequências fortes. O jogo
revolve em torno de lutar contra o inevitável, e como isso é pessoalmente
importante, pois é possível criar significado através da falta de significado.
O
objetivo do jogo é que o personagem principal cumpra uma profecia, que promete
que ao fim de sua jornada, ele saberá qual o destino dos mortos-vivos. A
história do jogo é apresentada de uma forma incomum, sendo necessário ler
descrições de magias e itens para que se entenda melhor como o mundo funciona e
as motivações dos diversos personagens que aparecem durante sua jornada.
O
diretor Hidetaka Myazaki trabalhou muito bem a dualidade no jogo, evitando
clichês. Luz, trevas, morte, vida, esses aspectos são tratados de forma muito
original, e o mesmo se aplica para os heróis e vilões, ninguém é
incontestavelmente mau, assim como ninguém é verdadeiramente altruísta. Cada
personagem do jogo luta pelo que acredita, ou para lidar com seus demônios
pessoais, e isso é importante, pois os mortos-vivos que abandonam suas jornadas
geralmente ficam loucos com sua própria imortalidade.
Apesar
de o jogo ter um cenário medieval, com cavaleiros de armadura lutando contra
dragões, ele está longe de ser um conto de fadas. Não interessa se a história
ou os jogadores retratam os personagens como heróis, vilões ou aventureiros,
cada ação tem sua consequência e não importa que eles não façam nada de errado,
tragédia ainda os encontrará. Não existem finais felizes em Lordran.
Gostei muito do texto. Bem escrito! Nunca pensei que games pudessem trazer tantas reflexões! Lúcia
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