domingo, 26 de julho de 2015

A Experiência Sense8


  Dona de uma espécie de "febre" nos últimos meses, a série Sense 8 estreou sua primeira temporada na Netflix e logo chamou a atenção. Não era pra menos, pois o elenco é bem selecionado e a série foi produzida pelos irmãos Wachowski, os responsáveis por um clássico do cinema contemporâneo, Matrix. Em sua tentativa de inovar, os Wachowski criaram um roteiro intrigante e, como de costume, deram margem para inúmeras discussões em torno das interpretações que podem ser feitas por quem assiste a série.

O maior acerto da série é justamente a concepção ainda não totalmente definida mas muito intrigante dos "sensates". Pessoas diferentes, que nunca se viram e vivem em diferentes locais do mundo, mas que passam a  compartilhar memórias, sentimentos e situações. Com vidas completamente diferentes, os oito protagonistas são colocados em uma experiência completamente nova e estranha.

Além disso, há a perseguição que se inicia contra eles por parte de uma misteriosa organização. O perseguidor, conhecido como sussurros, não tem pistas concretas de seus alvos, mas está disposto a caçá-los e eliminá-los como aparentemente já fez antes com outros grupos. Como complicador, sussurros tem a habilidade de identificar todo um grupo de "sensates" ao apenas olhar um membro deste grupo nos olhos.

Com essa premissa, a série consegue jogar com seu próprio enredo e com o espectador. A conexão entre essas oito pessoas , iniciada com o suicídio da personagem interpretada por Daryl Hannah em partes parece ser psíquica, cientificamente criada, em outras soa como um mistério sobrenatural, um fenômeno além da compreensão humana.

O que seriam os "sensates"? Mutantes? Humanos psiquicamente evoluídos? Ou, como é pautado na própria série, são pessoas que alcançam um nível maior de humanidade ao se ligarem? Os protagonistas trocam memórias, experiências, habilidades e emoções, da dor ao prazer. De alguma forma, os oito são um só, e é isso que os apavora e muda suas vidas.


Há, porém, uma certa impaciência nos primeiros episódios da temporada. O constante compartilhamento de histórias cotidianas tem a clara função de apresentar os personagens e o mundo em que cada um vive, além de, é claro, mostrar a estranheza da experiência em conjunto que eles passam a ter. Enquanto isso ocorre, a investigação e a principal história da série se arrastam em encontros e desencontros inúteis.

É claro que conhecer os personagens é parte importante de Sense 8 e a temporada faz isso muito bem. Porém, o desenvolvimento poderia ser mais sucinto, o que aceleraria o desenrolar das situações. Pessoalmente, a investigação e os perigos que os "sensates" correm juntos os apresentam tão bem quanto suas vidas cotidianas.

Ainda assim, o final da temporada é fluente, conexo e emocionante, com direito a cenas incríveis como a que ocorre em um concerto de música clássica. A série deixou uma premissa interessante, afinal, há muitas respostas a serem dadas, e conseguiu fazer do grupo que, de repente se vê unido por algo que não sabe o que é, um conjunto harmonioso de personagens com facetas diferentes.


 Sense 8 é uma produção que devolve aos Wachowski, dessa vez em um seriado, a chance de mostrar algo diferente, elaborado e viciante. Mesmo a já dita "enrolação" nos primeiros episódios tem seu sentido e acaba deixando o enredo completo. Uma temporada de certo modo introdutória, mas que já mostrou o potencial que a série pode ter, especialmente agora que o gatilho já foi disparado. A série ainda não teve uma segunda temporada confirmada, o que alguns atribuem aos altos custos da produção. Porém, o sucesso e a expectativa por um segundo ano possivelmente serão maiores do que isso, afinal, personagens e público ainda estão curiosos para saber "o que está acontecendo."