sábado, 29 de novembro de 2014

Boa Noite Vizinhança

     Assim como todos neste continente e em boa parte do planeta, a morte de Roberto Gomes Bolaños, o Chaves, o Chespirito, o Chavo del Ocho, o Chapolim Colorado, o Polegar Vermelho, o Doutor Chapatim, pegou a nós em uma surpresa nem tão surpreendente mas ainda assim chocante. É daquelas coisas que a maioria de nós evitava pensar. Não é necessário descrever aqui o fenômeno que é o personagem Chaves, que no Brasil é reprisado a cerca de 30 anos e não dá sinais de cansaço. Seria chover no molhado. Esse post na verdade quer tratar do legado que o criador e intérprete do Chaves, Roberto Bolaños, deixa pra sociedade, dentro e fora da televisão.


   Na televisão, não há dúvidas de que a facilidade de Bolaños em agradar a todas as idades e a longevidade de seu humor são seus maiores feitos. Será difícil bater a marca de Chaves (até porque continua passando todos os dias). No entanto, há mais do que isso, na minha opinião. Existe um certo lugar pra Chaves e Chapolim  no cotidiano das pessoas. A série é tão longeva que é quase palpável. Todos os dias vemos elementos de Chaves nas brincadeiras das crianças, no modo de falar das pessoas, e é esse o ponto em que a genialidade do criador Bolaños aparece. Afinal, nós é que incorporamos em nossa vida elementos de Chaves, ou foi a observação de Bolaños que criou aqueles personagens e aquela vila? A clássica máxima "A arte imita a vida, ou a vida imita a arte?" se torna verídica quando falamos de Chespirito.


    As maiores evidências dessa proximidade entre as gerações que acompanharam a criação de Bolaños são as manifestações de comoção em relação à sua morte. A melancolia expressada mostra o quanto uma obra de ficção afeta nossas vidas nisto que chamamos de realidade. E infelizmente, tudo se torna mais difícil quando se procura saber sobre os bastidores da série, que embora esbanjasse humor foram cheios de controvérsias.

    Bolaños faleceu sem se reconciliar com Maria Antonieta de Las Nievas e Carlos Vilagrán, intérpretes de Quico e Chiquinha. Há 40 anos eles não conversavam. E não conversarão mais. Pra quem não sabe, Vilagrán foi retirado do programa sem grandes explicações e, após o fim da produção, ele e Maria Antonieta foram proibidos de interpretar os personagens que os tornaram famosos, pois eram criações de Bolaños. Os três amigos da vila terminaram seu ciclo com uma inimizade que não foi sanada neste mundo, muito embora haja por parte de todos o lamento pela perda de Roberto.

   Fica a saudade. Ou não, até porque se o SBT parar de exibir Chaves vai ter briga. Bolaños estava doente a anos e sua morte comove, porém era, de certa forma, esperada. Fica a melancolia e o legado de um gênio, que criou algo que, a cada ano que passa, parece ser imortal. Roberto Bolaños acordou, nós ainda estamos todos dormindo. Até uma próxima Chaves, afinal como você mesmo diz, nos despedimos sem dizer adeus jamais, pois haveremos de nos reunir, muitas vezes mais... =`(

Obrigado Chespirito...