quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Sobre Serial Experimental Lain


   É bem provável que você já tenha se deparado com essa cena: Você e seus amigos juntos, em uma mesa de restaurante por exemplo, dividindo o mesmo espaço, porém todos com as cabeças baixas, de olho nos celulares enquanto a comida não chega. A internet restringe a interação real entre as pessoas. É mais fácil estar conectado, por vezes mais interessante estar online, tendo a facilidade da internet móvel a seu favor, do que se relacionar com as pessoas ao vivo. Não que a internet substitua certas necessidades humanas, mas é no mínimo notável o quanto estarmos conectados online nos desconecta da realidade.

   Pessoalmente, acredito que a facilidade de estar conectado o tempo todo se alia a impessoalidade da internet. Ao vivo, estamos sempre mais expostos,é mais fácil mostrarmos nossas imperfeições. Quando montamos uma rede social, é óbvio que, mesmo que não completamente, ocultemos nossos defeitos, aqueles que todos temos, mas que não os convém mostrar, por motivos óbvios.

   Exibido pela primeira vez em 1998 no Japão, Serial Experimental Lain é um anime já antigo que vagamente passa por essa temática do encanto do mundo da internet em detrimento do mundo real. Digo vagamente porque o anime tem indagações ainda mais profundas do que essa. Mesmo tendo sido lançado há dezesseis anos,fala sobre um assunto mais atual do que nunca.

  Lain é uma menina que vive num mundo onde existe a Wired, uma espécie de internet mais avançada que conecta o subconsciente das pessoas à rede sem precisar, necessariamente, de um computador. Quando Lain ganha um avançado modelo chamado Navy, ela vê em sua caixa de e-mails uma mensagem de uma colega de escola, chamada Shika. Nada estranho  não fosse o fato de que Shika havia se matado poucos dias antes da mensagem chegar.

  O efeito que o novo computador têm sobre Lain é algo a se notar. Pouco a pouco, a menina se afasta de sua vida e começa a viver grudada na Wired. Neste ponto alguns questionamentos são colocados, tendo como exemplo maior a relação da menina com seus pais, fria e distante. Aos poucos, percebe-se que, estando online é que Lain aparentemente é ouvida e vista pelas pessoas, visto que seus pais parecem pouco notá-la.

  A história ganha ares de mistério quando estranhos fenômenos na Wired começam a acontecer. A vida de Lain também começa a mudar quando ela passa a ser observada por pessoas estranhas e, mesmo sem saber como, vê seu nome associado aos estranhos acontecimentos. Será ela a responsável por tudo isso? Lain teria uma dupla personalidade na wired, uma garota completamente diferente do que ela era na vida real?

    É partindo desses mistérios que os treze episódios do anime vão se desenrolando, e enrolando a cabeça do espectador. Uma chuva de mistérios e diálogos aparentemente sem sentido, cenas de suspense em que não se sabe o que está acontecendo exatamente, uma gama de acontecimentos que se acumulam e só vão ser solucionados nos três últimos episódios, e mesmo assim não totalmente.

   Acima do enredo, porém, a discussão sobre o limite entre o real e o virtual, sobre a necessidade da internet e sobre a dependência dela em nossa vida são o ponto mais forte de Serial Experimental Lain.  O ar sci-fi e o clima constante de mistério, e ainda aquela  pegada "psyco" que ele carrega, fazem do anime uma boa pedida não só para quem curte animação, mas para quem gosta de refletir sobre o que vê.

Serial Experimental Lain tem um enredo instigante, cenas surpreendentes e traz uma série de teorias das mais interessantes sobre o limite psicológico e físico que há entre o mundo virtual, ao qual estamos cada vez mais acostumados e cada vez mais dependentes, do mundo real, ou supostamente real (vai que né?) que vivemos. Estão aplicados na série alguns aspectos que fazem dele uma obra única e interessantíssima. Há de se ressaltar que é um pouco difícil de assistir, por vezes muito confuso. Em contrapartida, é um anime bem pequeno, o que faz com que se veja bem rápido. Como curiosidade final, abertura e encerramento, isso na minha interpretação, tem uma profunda relação com o desfecho da trama ( que obviamente não vou contar.) Enquanto não existe pra nós uma Wired, que nos coloque de corpo, alma e mente em outro mundo, Lain pode ser visto até online. E vale a pena!!