quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

St. Elsewhere: Uma Análise sobre a loucura do normal

Tanto tempo sem postar quase me enlouqueceu. Loucura , aliás, é um tema recorrente desse post. Quero hoje analisar e dar meu ponto de vista sobre um disco delirante, complexo e, por vezes, incompreensível. Porém, tal disco é de uma genialidade tão absurda que , se não é, um dia será considerado um clássico dos anos 2000. Bem vindos à loucura de St. Elsewhere, do Gnarls Barkley.
O Gnarls Barkley é um duo norte americano formado pelo intérprete e rapper Cee-lo Green e pelo dj Dangermouse. Desde 2006 a dupla lançou dois álbuns, The Odd Couple (2008), que não tem nenhum hit de destaque mesmo sendo um excelente álbum, e o já citado St. Elsewhere (2006), que tem como carro chefe o mega hit "Crazy", que colocou a dupla no topo da parada de vários países mundo afora. A música chegou a ser eleita a segunda melhor dos anos 2000 pela Rolling Stone americana, ficando inexplicavelmente atrás de Crazy in Love, da Beyoncé.

O irônico é que o nome do maior hit da banda é justamente sobre o que o disco "disserta". St Elsewhere fala sobre loucura em todas as suas faixas. É como se o disco contasse a história de como uma pessoa normal se descobre louca e tudo o que ela passa a fazer após tal descoberta. Cada música fala sobre um ponto de vista do louco da história, de como a sociedade o vê, de como ele se vê, e o que ele faz pra conviver ou se curar disso.

Junte a esse tema o som alternativo do Gnarls Barkley, com a voz marcante de Cee-lo junto as batidas de hip hop em conjunto com batidas eletrônicas e sons nem tão musicais, letras um tanto quanto subversivas que temos, por fim, um disco que fala de loucura enquanto enlouquece.




O disco ja começa mostrando o som alternativo característico do Gnarls Barkley. A primeira faixa "Go-go Gadget Gospel", é rápida e tem sim uma função introdutória. A letra chama a atenção por falar de uma certa normalidade "Estou bem no meu lugar, tenho quase tudo [...]". Quando ela acaba, é sucedida pela conhecida "Crazy", que fala justamente sobre achar que é louco. É como se o protagonista do disco descobrisse tal fato, e tentasse entender aquilo, além de tentar descobrir loucura em outras pessoas, mesmo elas aparentando serem normais. Ele ainda tenta ver se o seu passado tem a ver com o fato de ser louco. Acha muito pra uma música de três minutos?? É só prestar atenção à letra: "Meus heróis tinham o poder de atravessar todos os obstáculos, e tudo o que eu me lembro é ficar pensando: Eu quero ser como eles..."

Após se descobrir louco, é hora de abandonar a vida que se tem e sair por aí, procurando alguém que compartilhe de sua loucura. É isso que St. Elsewhere, faixa-título e terceira musica do album conta. Ela é seguida por Gone Daddy gone, uma animada faixa em que ele conta a seu pai que o amor foi embora. Tão sem sentido quanto o clipe da música, a princípio.

A história segue falando de pessoas sorridentes e monstros no armário. Em smiley faces ele se depara com alguém sempre sorrindo e em The Boogie Monster descobre que o monstro que tanto o assusta de noite é um espelho. Seriam a pessoa sorridente e o monstro o mesmo ser?? Mais a frente, na faixa Who Cares, ele diz ser duas pessoas, portanto há ligação entre as faixas.

Feng Shui fala sobre não se adaptar à sociedade, e é seguida por Just a Thought(melhor música do álbum), que fala de suicídio. Pelo menos, diz que suicídio é um pensamento constante na vida. As faixas seguintes seguem com esses dilemas sobre a tênue linha entre loucura e sanidade. Entre "Transformer" e "Storm Coming", é dito tudo sobre o que ja foi falado nas outras faixas, seguido ainda por uma espécie de tentativa de cura, de adaptação. O disco termina com "The Last Time", que fala sobre um reencontro. Após tudo isso, o disco dá a impressão de que o amor que se foi em "Gone Daddy gone" volta e se descobre também louco, louco a ponto de juntar loucos num mundo que é louco por ser normal, entende??

A grande sacada é que ao ouvir tudo o que é cantado nesse álbum, conseguimos perceber traços de uma pessoa como qualquer outra no protagonista, o louco. O louco seria normal?? A frase final da segunda faixa do disco, o hit "Crazy", volta então a martelar na minha cabeça, dessa vez com um significado maior: "Talvez eu seja louco, talvez você seja louco, talvez nós sejamos loucos... Provavelmente".

http://www.youtube.com/watch?v=hh5ZdQrz4Qk&NR=1&feature=endscreen





By Carlos



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Mulher Mata os Cinco Filhos Pequenos Afogando-os em uma Banheira!

Em 2001, noticiários ao redor do mundo exibiram a manchete que relatava o surto psicótico de Andrea Yates, texana que se sagrou psicopata após assassinar os cinco filhos.

A Notícia, causa de comoção para muitos, foi, para o roteirista Marc Cherry, o gatilho para a criação de sua  série mais premiada: Desperate Housewives.


Desperate Housewives: Série inspirada em um surto psicótico

"Quais os motivos que poderiam levar uma mulher a ficar tão desesperada a ponto de cometer tamanha monstruosidade"? 

Marc Cherry

Essa indagação foi feita por Cherry a si mesmo quando assistiu a matéria sobre Yates. (Fonte: Wikipedia)  Ele tenta respondê-la durante as oito temporadas de Desperate Housewives através de uma narrativa dramática com elementos de comédia e ironia, além de aspetos de humor negro, explorando, em seus personagens, o limiar entre a loucura e a normalidade presentes no cotidiano. 



O Seriado:

Desperate Housewives conta a estória de cinco donas de casa em um subúrbio fictício chamado Wisteria Lane. Esse bairro é uma caricatura dos subúrbios americanos, com seus belos jardins floridos, vizinhos sorridentes conversando entre as cercas, crianças correndo nas ruas e casas perfeitas.

Wisteria Lane: Típico Subúrbio Americano



Após introduzir esse cenário extraído de um conto de fadas contemporâneo, o seriado quebra as expectativas do telespectador ao abordar como  temática principal, o lado obscuro dos personagens que compõem a trama. Cria-se um paradoxo entre o cenário perfeito e os personagens sombrios. E é justamente essa contradição que define os acontecimentos do seriado.





As Protagonistas, os coadjuvantes e até mesmo os personagens secundários escondem segredos. Mas para viver em meio às pessoas, eles lutam para esconder quem realmente são, pois têm medo de serem julgados, repreendidos, presos ou até mesmo assassinados. É assim que Wisteria Lane toma forma, pois, na tentativa de ocultar quem realmente são, os moradores do bairro criam a vizinhança perfeita.

A série explora as falsas aparências, e é por isso que a medida que a trama se desenrola e os segredos dos personagens são revelados, a figura da simples dona de casa é desconstruída e as protagonistas se vêem envolvidas em situações inusitadas e desesperadoras, onde têm que lidar com todos os tipos de adversidades.

As situações inusitadas são um dos pontos fortes da Série


Episódio Piloto:


No episódio piloto de Desperate Housewives, o telespectador é apresentado a uma narradora onisciente. Ela é a personagem principal do seriado e se chama Mary Alice Young. 

Mary Alice é uma dona de casa preocupada em mostrar para os amigos e vizinhos que sua vida é perfeita, que sua família possui valores morais íntegros, que seu matrimônio é feliz, que seu guarda-roupas é tamanho 36, e muitas outras características que evitem que as pessoas julguem sua vida.

Nos três primeiros minutos do episódio piloto, a narradora relata sua rotina em um dia aparentemente normal, até o momento em que comete suicídio. 


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Mary Alice Young: A Protagonista comete suicídio no terceiro minuto do episódio piloto

Mary Alice possui quatro amigas, co-protagonistas do seriado, além de serem donas de casa igualmente desesperadas para manter um status de perfeição, e que se revoltam com a atitude egoísta de Mary Alice.

No decorrer do episódio, as quatro personagens principais mostram que são pessoas normais, mas que diferentemente do que tentam demonstrar, possuem segredos ou fraquezas que se esforçam para esconder.

Quase no fim do episódio, as donas de casa encontram um bilhete no meio das roupas de Mary Alice com os dizeres:

"Eu sei o que você fez
 e isso me dá nojo
 vou contar para todo mundo"

Após lerem a carta,  as donas de casa concluem, individualmente, que Mary Alice nunca havia dito nada sobre a ameaça pois, assim como elas próprias, a narradora possuía segredos terríveis, e nunca foi totalmente sincera sobre quem realmente era.


Carta recebida por Mary Alice


Minha Opinião sobre o seriado e a Oitava Temporada:

Reservo este espaço para minhas opiniões pessoais acerca de Desperate Housewives, afinal, são estas que caracterizam os blogs.

Primeiramente gostaria de me desculpar para aqueles que leram o tópico curiosos com o assassinado cometido por Anídrea Yates. Possivelmente vocês fecharam o blog no fim do segundo parágrafo e não chegaram até aqui.

Decidi escrever sobre Desperate Housewives pois ela foi cancelada e exibe a sua oitava e última temporada.

O gênero que define Desperate Housewives é a comédia, mas a série conta com generosas narrativas de drama. Os jogos de aparência, meu ponto favorito da série e que eu busquei retratar nesse post, são abordados por ambas as vias, proporcionando um texto rico, que ora me fazem imergir na trama, ora me proporcionam situações hilárias com a perspectiva deturpada do cotidiano. (Sem contar que as Coroas do elenco são muito boas).



Confesso que o seriado erra um pouco nas cenas cômicas, com piadinhas momentâneas ou excessivamente femininas que descaracterizam alguns personagens ou o contexto do episódio. Felizmente, os momentos de tensão liderados pela narradora onipresente colocam tudo de volta nos eixos.

Esse post foi bastante introdutório ao seriado. Espero que aqueles que já conhecem Desperate Housewives tenham aprovado, e que aqueles que não conhecem tenham despertado a curiosidade sobre a série.


OITAVA TEMPORADA: (Contém Spoilers)

No final da sétima temporada, as donas de casa foram cúmplices de um assassinato. Quando a última temporada foi anunciada, eu me preocupei que os episódios finais fossem "desperdiçados" pela trama da temporada anterior.

Como eu havia previsto, o foco inicial da oitava temporada recaiu sobre as investigações e o esforço das protagonistas em manter o segredo guardado. No entanto, rapidamente o seriado deixou o crime em si de lado, e passou a abordar os efeitos desastrosos do peso de ocultar um homicídio na vida das protagonistas, que rapidamente se submeteram a uma rotina de estresse e tensão, que aos poucos, contribuía para que a vida delas se desestruturasse rapidamente.


O Último Segredo das Donas de Casa: Elas estão desesperadas para escondê-lo!


Com a vida das personagens principais em ruínas, a oitava temporada prepara o clímax perfeito para a conclusão da série. Pois, quando tudo parecia não poder ficar pior, o autor, em uma tacada genial, faz com que uma das donas de casa receba uma carta com os seguintes dizeres:


"Eu sei o que você fez
 e isso me dá nojo
 vou contar para todo mundo"